Deu no Estadão O Ministério Público Federal vai investigar a Fundação José Sarney.

O procurador da República Tiago Sousa Carneiro decidiu apurar as relações da entidade - mantida pelo presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP) - , com a Petrobrás.

Carneiro vai solicitar hoje ao Ministério da Cultura as prestações de contas do convênio da fundação com a estatal.

A partir dessas notas fiscais, ele pretende buscar indícios de desvio de recursos públicos por parte da entidade, além da não execução do projeto pago pela Petrobrás, que previa a digitalização do acervo e a informatização do acesso aos documentos.

A decisão do procurador foi tomada depois que o Estado revelou, na quinta-feira passada, que a Fundação José Sarney não executou o projeto e desviou R$ 500 mil da verba de R$ 1,3 milhão repassada pela estatal.

A quantia foi remetida a empresas fantasmas, com endereços fictícios, e da família do senador, como a TV Mirante e as rádios Mirante AM e FM.

Carneiro agora aguarda o material do ministério, responsável pela aprovação do projeto cultural patrocinado pela Petrobrás com incentivo fiscal.

A procuradoria avalia ainda a possibilidade de enviar o caso para a Polícia Federal abrir um inquérito sobre as suspeitas de mau uso do dinheiro público.

O Estado mostrou no domingo, por exemplo, que uma empresa do ramo varejista de vestuário e acessórios, Sousa Premiere, recebeu R$ 12 mil para dar um curso de “capacitação da história da arte”.

No endereço fornecido à Receita Federal pela empresa, não há vestígios de loja nem de estabelecimento de ensino cultural.

No local, numa rua de terra, há uma casa de praia, ampla e com piscina.

Não é a primeira vez que a Fundação José Sarney entra na mira dos procuradores do Maranhão.

A entidade do senador e o Ministério Público travam uma disputa em torno do Convento das Mercês, prédio construído em 1654 e que hoje abriga a sede da Fundação José Sarney.

Os procuradores alegam que o prédio é patrimônio público e deve permanecer sob domínio do Estado.

Eles questionam a doação feita pelo governo do Maranhão em 1990.

Argumentam que o prédio é tombado pela União e não poderia ser entregue à Fundação José Sarney.

Há dois anos, após uma decisão judicial que retirou o convento das mãos da fundação, Sarney pediu para que a Mesa Diretora do Senado entrasse com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) contra a decisão.

Hoje, Sarney deve ser cobrado pelos senadores sobre a contradição em que se envolveu nos últimos dias.

Pressionado, o senador afirmou, em plenário, que não tem “responsabilidade administrativa” na Fundação José Sarney.

O Estado revelou no sábado que o estatuto da entidade não deixa dúvidas sobre o poder exercido pelo senador e sua família.

Sarney é presidente vitalício, tem poder de veto e preside o Conselho Curador, que indica o Conselho Fiscal, responsável pelas contas da fundação.

Na avaliação de senadores, Sarney mentiu em plenário e deve sofrer processo por quebra de decoro no Conselho de Ética.

O senador já é alvo de outras denúncias no órgão, entre elas a ligação com os atos secretos editados no Senado nos últimos 15 anos e o envolvimento de um neto no agenciamento de empréstimos consignados entre os servidores da Casa.Agora, terá que explicar as relações com a Fundação José Sarney. “Mentir é quebrar o decoro.

O Conselho de Ética terá que investigar isso”, diz o senador Renato Casagrande (PSB-ES).