Por Ines Andrade, de Política / JC O PT estadual se encontra hoje numa posição no mínimo desconfortável. É governo e bate de frente com as greves encampadas pelos servidores públicos ao passo que mantém vínculo histórico com os movimentos sindicais.
Apesar dessa relação, líderes da legenda que estão no governo admitem que estão de mãos atadas.
Eles afirmam que já fizeram o possível para evitar o confronto mas não podem interferir na decisão dos sindicatos.
Atualmente, o governo do Estado enfrenta greve dos funcionários da saúde, educação e do Detran.
O secretário estadual das Cidades, Humberto Costa (PT), e o presidente do Grande Recife Consórcio de Transporte, Dilson Peixoto (PT), afirmam que fizeram o possível para evitar o movimento mas não puderam contorná-lo. “O PT é governo e respeita a autonomia dos sindicatos.
Não existem dois lados, mas o lado do governo partidariamente falando”, distingue Peixoto. “Todos entendem que não temos esse poder (sobre os sindicatos)”, dimensiona Humberto. “O que a gente tentou fazer foi mostrar à direção do sindicato o esforço do governo, a sinceridade do governo quando propôs em negociar medidas de impacto financeiro no terceiro quadrimestre (do ano).
Mas a lógica do movimento sindical é muito desconectada da questão política mais geral.
Então esse apelo não deu resultado”, lamenta Dilson.
Ex-presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), ele ressalta a posição atual da legenda, que está do lado do governador Eduardo Campos (PSB).
Humberto nega a existência de uma cobrança interna do governo em aguardar uma atuação da legenda para arrefecer os ânimos dos sindicalistas. “Estão superdimensionando esse assunto.
Isso é normal (o conflito). É da democracia.
Antigamente, no tempo da ditadura, um movimento como esse era um fato político”.
O ex-prefeito João Paulo (PT) reforçou o discurso em defesa da sua legenda. “Temos a clara compreensão que o sindicato tem a sua independência.
Um dirigente do PT não tem como dizer a um trabalhador se ele deve ou não fazer uma greve”.
Representantes dos servidores públicos também destacaram a autonomia dos sindicatos e dos movimentos grevistas.
Afirmam que continuarão defendendo os interesses das categorias e que o PT não vai enquadrá-los. “Nem o PT vai enquadrar a CUT, nem a CUT vai enquadrar o PT.
Cada um cuida do seu papel”, dispara Sérgio Goiana, presidente da CUT. “Apoiamos a candidatura (de Eduardo), mas sempre deixando claro que manteríamos nossa posição de luta pelos trabalhadores”. “Estamos num ato do sindicato, garantindo o nosso direito.
Essa relação (com o PT) não interfere”, defende Heleno Araujo, presidente do Sindicato dos Trabalhadores na Educação do Estado (Sintepe).
Os funcionários da Educação entram hoje no quarto dia de greve e, segundo Araújo, a tendência é de fortalecimento.