Oito anos depois, o assassinato da promotora de Justiça Maria Aparecida Clemente - encontrada dia 7 de abril de 2001, no lixão de Igarassu, com dois tiros na cabeça - teve um desfecho.

Com base em atuação conjunta entre o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) e da Polícia Civil, quatro homens estão sendo denunciados criminalmente, dentre eles, o próprio marido da vítima, o empresário José Aderval Clemente, mandante do crime.

As investigações foram retomadas em julho do ano passado por determinação do procurador-geral de Justiça, Paulo Varejão, que ordenou a atuação do Núcleo de Inteligência do Ministério Público (Nimp) junto à Polícia Civil. “A elucidação deste caso foi um compromisso que assumi junto à minha categoria e, em menos de um ano, chegamos a este resultado”, comentou Varejão.

Através de 136 depoimentos e provas materiais que compõem um inquérito com oito volumes e 1.848 páginas, MPPE e Polícia conseguiram estabelecer a motivação do crime e a ligação entre José Aderval e o grupo de extermínio “Thundercats” – então sediado na Bomba do Hemetério -, responsável pela execução.

Todas as hipóteses foram verificadas: sequestro, latrocínio, homicídio em decorrência da atuação funcional.

No entanto, a investigação concluiu que o assassinato de Maria Aparecida foi motivado por uma questão financeira.

Estão sendo denunciados pelo MPPE: Luciano Pereira da Silva (“Lúcio da Bomba”), 30 anos, executor, preso no Aníbal Bruno em decorrência de outros crimes; Emilson dos Santos Davi (“Miso”), 33 anos, taxista, executor, preso no Aníbal Bruno em decorrência de outros crimes; José Aderval Clemente, 52 anos, marido da vítima, mandante, em liberdade; Alberto Carlos da Silva (“Beto”), 36 anos, funcionário de José Aderval, intermediário do crime, em liberdade.

Todos serão processados por homicídio duplamente qualificado. “Lúcio da Bomba” e “Miso” também respondem por formação de quadrilha.

A denúncia foi recebida pela comarca de Igarassu no dia 19 de junho.

Luciano e Emilson tiveram nova prisão preventiva decretada.

O Ministério Público não encontrou requisitos legais para solicitar a prisão temporária de José Aderval e Alberto Carlos neste processo.

No entanto, já há pedidos de prisão contra José Aderval em processos de 2004 e 2006 em que foi denunciado criminalmente por sonegação fiscal, falsificação e extravio de documentos públicos e formação de quadrilha.

Os processos tramitam nas comarcas de Santa Cruz do Capibaribe, Caruaru e Toritama.

Motivação José Aderval Clemente tem empresas relacionadas ao comércio de tecidos nestes três municípios.

Em 2001 ele já devia cerca de R$ 1 milhão ao Fisco e vinha reiteradamente cometendo o crime de sonegação fiscal, inclusive falsificando documentos públicos.

Maria Aparecida, então sócia das empresas, já vinha confidenciando a amigos e colegas de trabalho que se sentia incomodada com a situação e temia ser alvo de um processo criminal por causa do marido, ainda mais sendo promotora de Justiça.

Ela conseguiu sair da sociedade e chegou a propor separação conjugal.

No entanto, em caso de divórcio, os bens da família ficaram sob poder de Maria Aparecida, a quem caberia a guarda dos três filhos menores.

As ações de penhora, portanto, atingiriam apenas o patrimônio restante a Aderval.

Com a morte da esposa, por outro lado, os bens passariam ao espólio de menores e não seriam alvo de execução fiscal.

Ele então tramou o assassinato da esposa, contando com a intermediação de Alberto Carlos da Silva (“Beto”), seu funcionário de confiança.

Com informações do MPPE.