Editorial do Jornal do Commercio desta quarta A decisão do Conselho de Ética da Câmara Federal de rejeitar o parecer pedindo a cassação do deputado Edmar Moreira – aquele do castelo não declarado ao imposto de renda – confirma a declaração política do ano, do colega dele, deputado Sérgio Moraes, do PTB do Rio Grande do Sul: “Eu estou me lixando para a opinião pública.

Até porque a opinião pública não acredita no que vocês escrevem.

Vocês batem, batem, e nós nos reelegemos mesmo assim”.

O clamor nacional contra essa joia de pensamento político não mudou nada no Congresso, atolado em denúncias que fazem cada vez mais o Senado parecer uma instituição cara e desnecessária e, agora, a Câmara, um colegiado corporativista que é a cara do deputado Edmar Moreira como ele aparece na TV: arrogante e se lixando para a opinião pública.

De Pernambuco, um nome que deve ser lembrado: o nosso representante no Conselho de Ética, deputado Roberto Magalhães, votou pela cassação do deputado do castelo, mas não causa nenhuma surpresa.

A trajetória do político pernambucano está espelhada em sua decisão.

Pode-se discordar de suas ideias, questionar seu passado como membro do partido de sustentação da ditadura militar – no que esteve acompanhado por muita gente ilustre de hoje e do passado, como Teotônio Vilela, igualmente um político reconhecidamente ético – mas não há como duvidar de sua coerência e de seu zelo pela imagem do homem público.

Um voto previsível, pois.

Mas apenas três outros deputados acompanharam Roberto Magalhães, enquanto oito acompanhavam o colega que sempre se lixou para a opinião pública.

Eles passam a fazer parte desse grupo que parece ser majoritário no Congresso Nacional, comprometendo irreversivelmente a imagem dos atuais parlamentares e jogando para 2010 as expectativas de depuração.

Se o povo quiser reverter essa imagem, terá que mudar pelo menos dois terços do Congresso, com a cassação pelo voto de todos os que estão se lixando.

Se mantiver figuras como Edmar Moreira e o pensador gaúcho autor da frase do ano, então estaremos retardando para só Deus sabe quando o processo de limpeza de uma instituição que padece de gravíssima enfermidade moral.

Se alguém tem alguma dúvida sobre essa enfermidade, basta pinçar cada uma das denúncias que se abatem sobre as duas Casas do Congresso e associá-las ao núcleo do pensamento do homem do castelo, quando chegou à Corregedor da Câmara Federal: “É difícil um deputado julgar outro, porque todos sofrem do vício insanável da amizade”.

Mas não é tudo.

Melhor seria dizer que quase todos sofrem do vício insanável da cumplicidade e da impunidade.

Ao eleitor resta a possibilidade de, como resposta mais imediata – 2010 ainda está longe – se associar aos movimentos da sociedade civil organizada, como o que resultou na primeira lei de iniciativa popular, a 9840/99, que tornou possível a cassação de políticos detentores de mandatos e que pensavam estar acima da lei, ou a Campanha Ficha Limpa, em andamento.

Essa campanha está recolhendo assinaturas e já está perto do número exigido – um milhão e 300 mil – para apresentar o projeto de lei sobre a vida pregressa dos candidatos.

Esse projeto defende condenação criminal por improbidade administrativa e inelegibilidade.

E aqui reiteramos que é preciso destacar que apesar do lamaçal há parlamentares decentes, muitos respeitam o mandato que receberam e sofrem hoje o desgaste provocado por alguns que se lixam para a opinião pública.

Sempre que tivermos o desgosto de ver e ouvir figuras execráveis como essas que desrespeitam a confiança do povo, é bom olhar para o outro lado e constatar – como agora – que há parlamentares como o pernambucano Roberto Magalhães, que votou abertamente pela cassação do homem do castelo.