Por Augusto Coutinho Deputado pelo DEM e Líder da Oposição Não é novidade na história recente da política brasileira o executivo tentar se livrar do ônus de propostas impopulares jogando-as no colo do poder legislativo.

Quando quis, por exemplo, reeditar a CPMF com outro nome, Lula delegou à base aliada no Congresso a tarefa espinhosa.

Não queria perder um ponto sequer de sua popularidade.

Sobrou para os deputados governistas.

Mas a oposição e a opinião pública cerraram fileiras, pressionaram e a proposta não vingou.

Ainda bem.

Inclusive para Lula que conseguiu, através da manobra, se livrar da paternidade da iniciativa.

O governador Eduardo Campos é aluno dedicado da escola lulista.

Tentou por duas vezes repetir a manobra aprendida com o presidente no caso do projeto dos auditores fiscais, que permitia que uma casta privilegida de servidores da fazenda estadual – 352 para ser exato – pudessem receber acima do salário do governador, o que é inconstitucional.

Primeiro com Tereza Leitão.

Depois com o líder do governo na Alepe, Isaltino Nascimento. É preciso ser ingênuo demais para imaginar que o líder do governo, sozinho, sem consultar o palácio, apresentasse uma emenda que iria beneficiar uma categoria que historicamente tem o apreço do governador, sem que Eduardo Campos não desse total apoio.

Diante da repercussão negativa, o governador agora veta a lei, deixando de calças curtas o seu líder na Assembleia.

Não bastasse se eximir da responsabilidade inicial, agora o governador quer jogar para a Assembleia desfazer o imbróglio, como se a iniciativa tivesse sido do poder legislativo e não do seu líder no parlamento.

De certa forma, a bancada do governo, com sua subserviência canina ao palácio, tem culpa na história.

Durante a discussão do projeto, a bancada de oposição se posicionou contrária e alertou para a inconstitucionalidade, como também para o absurdo de se criar uma elite de privilegiados, quando o resto do funcionalismo pena apenas para tentar fazer valer os seus direitos mínimos.

Pedimos em plenário que a bancada governista não aprovasse o projeto simplesmente porque o governo assim o queria.

De nada adiantou, o projeto passou com a franca aprovação da maioria cega à realidade inconstitucional da proposta, surda aos nossos apelos e muda diante da sociedade.

Mas a Assembleia não é só uma bancada ou duas. É um poder e o governador, mais uma vez, desrespeitou o legislativo pernambucano.

O líder do governo é um político com serviços prestados a Pernambuco.

Conheço-o de duas legislaturas e, embora sempre em lados opostos, respeito a sua atuação. É claro, para mim, que neste caso, Isaltino foi usado.

O pior é que foi deixado em maus lençóis, abandonado inclusive pela base que lidera e pelo governo que representa.

Isaltino não merece isso.

A ideia foi filha legítima do palácio.

Um dia antes da votação, houve uma reunião na sede do governo entre o governador, o seu líder, o presidente da Assembleia e o da Comissão de Justiça, para encaminhar a votação.

Isso mostra claramente como Isaltino foi apenas um instrumento das manobras do governador.

A Assembleia tem responsabilidade sim sobre a história, mas o ônus é todo do executivo.

Não cabe agora o governador querer dar uma de bonzinho.

Não foi quando teve a ideia da iniciativa, não foi quando a jogou no colo de Isaltino, não foi quando só a vetou depois de temer a repercussão na opinião pública – e registre-se aqui o importante papel desempenhado pelo Jornal do Commercio.

Não está sendo quando, depois de usá-lo, deixa o seu líder na Assembleia à mercê da desaprovação geral.

Este filho natimorto, governador, é seu.

Pega mal não assumi-lo.

P.S.: uma dica para Isaltino: escute mais a oposição.