Por Edilson Silva Após vencer as eleições presidenciais em 2002, o futuro governo Lula começou rapidamente a pavimentar o caminho por onde iria trilhar.
Antes de assumir o comando formal da República, delegou a Henrique Meireles, então deputado federal eleito pelo PSDB de Goiás, um ex-alto executivo do Banco de Boston, a tarefa de presidir o Banco Central.
Na sequência, articulou a candidatura de José Sarney para presidir o senado a partir de 2003.
Três meses depois, o já empossado presidente Lula acionava no Congresso Nacional mais uma fase da reforma da previdência, aquela que iria taxar os aposentados.
Estas três opções do governo Lula e do PT foram a fiança política e pública de que muita coisa ruim no país não iria mudar: concentração de riqueza, corrupção e patrimonialismo.
Não por acaso, a hoje presidente nacional do PSOL, à época senadora do PT pelo estado de Alagoas, posicionou-se contrária às orientações e imposições de Lula e do PT nestes três episódios.
As posições de Heloisa Helena, assim como dos demais parlamentares do PT (Luciana Genro, Babá e João Fontes) que lhe acompanharam nesta contra-mão, renderam-lhe a expulsão do PT em dezembro de 2003.
A sociedade brasileira hoje colhe os frutos desta opção da era Lula.
O pus fedorento que escorre do senado no momento, e que tem na cara-de-pau do seu presidente José Sarney o corpo mais inflamado de plantão, não é um caso isolado ou somente corrupção.
Trata-se da exposição pública de parte da engenharia política que funciona com suas engrenagens lubrificadas com a graxa da ética dos negócios privados de pior tipo.
Ou o que esperar de “negociantes” que ingressam na esfera pública, direta ou indiretamente, para atender a seus interesses?
Tipos como Daniel Dantas, por exemplo, precisam de outros como Sarney, Renan e Gilmar Mendes para que tenham a “segurança jurídica” necessária para “investir” seu capital.
A existência e o absurdo protagonismo da família Sarney na política nacional são, portanto, uma clara sinalização de que aqui estamos distantes da justiça social, da reforma agrária que já foi feita em toda sociedade minimamente civilizada, distantes do fim do coronelismo e ainda mais distantes de uma república digna deste nome.
Nem esta reforma democrática a era Lula foi capaz de encaminhar.
Estou entre os que têm a sensação de que marchamos para trás nos últimos anos, mas sigo com a esperança.
O Brasil tem jeito.
Presidente do PSOL/PE