Por Saulo Moreira Caro governador; Como jornalista (diplomado, diga-se), tenho acompanhado sua trajetória desde janeiro de 1995, quando o senhor era o secretário da Fazenda do Estado.

Lembro que o senhor, por atencioso e muito hábil, foi sempre querido pelos servidores do Fisco.

Saiu da Fazenda para a Secretaria de Governo no ano seguinte para cumprir uma missão política dada pelo então governador Miguel Arraes.

E o fez com competência.

Também ainda estão claras na minha cabeça as coberturas jornalísticas sobre aquela operação com títulos públicos da qual o senhor foi inocentado de qualquer responsabilidade pelo Supremo Tribunal Federal.

Antes, porém, sofreu com o bombardeio da oposição, da imprensa e de CPIs.

No final daquele governo do doutor Arraes (1995-1998), ainda vieram outras pedreiras: crise financeira, má vontade do então governo Fernando Henrique com Pernambuco e, por fim, a derrota de seu grupo político nas eleições de 1998.

O poder se foi, aliados se afastaram, foi-se também parte do prestígio de outrora.

São os reveses da política.

Tanta dificuldade não o impediu, governador, de dar a volta por cima poucos anos depois.

Todos sabemos que o senhor foi um dos ministros mais influentes do primeiro governo Lula (2003-2006) e, suprema redenção, venceu aquele grupo político que antes o derrotara.

Tornou-se então o chefe do Executivo pernambucano.

Para vencer as eleições de 2006, o senhor adotou um discurso moderno: transparência, gestão eficiente e interiorização do desenvolvimento.

E, já como governador, é de se admitir que sua gestão vem dando visibilidade aos atos de governo (Portal da Transparência, por exemplo), tentando modernizar a máquina pública (convênio com o Instituto de Desenvolvimento Gerencial) e atrair empresas para outros locais que não o Grande Recife (Sadia e Perdigão, por exemplo).

Nos últimos quinze dias, no entanto, comecei a ficar intrigado com a insistência de seus aliados em aprovar um projeto que garante salários fora da realidade para uma parte dos fazendários.

Sempre informado por Giovanni Sandes, incansável repórter deste JC e leitor assíduo do Diário Oficial, venho editando matérias sobre este projeto que, uma vez concretizado, criará uma casta de 352 auditores que poderão ganhar mais que os R$ 17 mil que o senhor legalmente está autorizado a receber por mês.

Pequeno parêntese: a Constituição proíbe que servidores do Executivo tenham vencimentos acima do que recebe o governador.

Esta história está muito mal contada, governador.

Primeiro não houve divulgação.

Depois, a deputada Teresa Leitão, que assinara uma das emendas a pedido do presidente da Assembleia, Guilherme Uchoa, retirou a assinatura.

Veio então seu líder de governo, Isaltino Nascimento, e bancou a autoria da emenda que garante os super-salários.

Na defesa do projeto, Isaltino usou de uma ginástica argumentativa que não convenceu a ninguém.

O Sindifisco, sindicato que representa os fazendários, também adota uma postura dúbia: de tarde faz média com o conjunto de servidores estaduais e critica o privilégio; à noite negocia a regalia.

Todos, Teresa Leitão, Guilherme Uchoa, Isaltino e, historicamente, o Sindifisco são seus aliados.

O que está havendo, governador?

Há três dias que o projeto, já aprovado pela maioria dos deputados, chegou à sua mesa.

Cabe ao senhor vetar ou sancionar.

Longe de mim achar que minhas palavras podem ter alguma importância, mas sugiro, governador, que o senhor vete.

Não é nem tanto pelo caráter insconstitucional da medida.

Nem porque são os contribuintes pernambucanos que vão arcar com estes salários.

Acho, governador, que o pior de tudo é permitir um salário acima de R$ 17 mil para um contingente formado por apenas 0,4% do funcionalismo do Estado.

Professores, policiais e médicos fazem greve por melhores salários.

Por que auditor pode e outras categorias, não?

Acaso o trabalho de um é mais importante que o de outro?

Pela sua biografia e pelo próprio ideário do partido que o senhor preside (PSB), bem sei que a igualdade é uma de suas bandeiras.

Portanto, para o bem do Estado, não coloque seu nome sob um projeto nocivo como este. É isso. » Saulo Moreira é editor de economia do Jornal do Commercio