De Internacional/JC TEGUCIGALPA – Militares agindo sob ordem da Justiça prenderam na manhã de ontem, e expulsaram em seguida para a Costa Rica, o presidente de Honduras, Manuel Zelaya, que havia convocado para ontem um referendo constitucional considerado ilegal pela Suprema Corte do país.

Horas depois, o presidente do Congresso, Roberto Micheletti, foi designado pelo Parlamento para a presidência.

O episódio foi repudiado pela maioria dos países do continente, pela Organização das Nações Unidas e pela União Europeia.

A resolução, lida no plenário do Congresso, acusa Zelaya de “manifestar conduta irregular” e “colocar em perigo o Estado de direito”, por sua recusa em obedecer a decisão da Suprema Corte.

Horas após assumir, Micheletti decretou toque de recolher de 48 horas.

Mais cedo, o Congresso já havia aprovado uma suposta carta de renúncia do presidente, que Zelaya afirma ser um documento falso.

Soldados invadiram o palácio nacional pela manhã e levaram o presidente de Honduras para o exílio na Costa Rica.

Zelaya, um esquerdista aliado do presidente venezuelano Hugo Chávez, disse que foi vítima de um golpe militar.

A Suprema Corte do país informou que estava apoiando os militares no que chamou de “defesa da democracia”.

O líder foi detido pouco antes do início do plebiscito que iria definir se a Constituição do país poderia ser modificada.

Além da Suprema Corte, membros do Congresso e integrantes do próprio partido de Zelaya eram contrários à votação.

Críticos disseram que ele queria acabar com as limitações à sua reeleição.

Tanques tomaram ontem as ruas de Tegucigalpa e centenas de soldados com escudos cercavam o palácio presidencial.

Ao chegar ao aeroporto da capital da Costa Rica, San José, Zelaya disse que a ação militar era ilegal. “Não há como justificar um interrupção da democracia, um golpe de Estado”, afirmou, em entrevista coletiva. “Esse sequestro é uma extorsão do sistema democrático hondurenho”, continuou.

Manuel Zelaya falou que não vai reconhecer nenhum outro governo do país e prometeu concluir seu mandato, que termina em janeiro.

Ele disse que vai comparecer à reunião dos presidentes de países da América Central, na Nicarágua, hoje.

Zelaya contou que foi acordado por tiros e gritos de seus seguranças, que resistiram às tropas por pelo menos 20 minutos.

Ainda de pijama, ele pulou da cama e se escondeu atrás de um aparelho de ar-condicionado para não ser atingido pelas balas.

O presidente deposto pediu, no exílio, que os soldados hondurenhos desistam, que os cidadãos tomem as ruas em protestos pacíficos e que a polícia proteja os manifestantes.

Cerca de 100 partidários de Zelaya, muitos usando camisetas nas quais se lia “sim” ao plebiscito, bloquearam as principais ruas ao redor do palácio, atirando pedras e chamando os soldados de “traidores”.

Honduras tem uma longa história de golpes militares.

Soldados depuseram presidentes eleitos em 1963 e 1972.

Os militares não permitiram um governo civil até 1981.