Da Capa Dois/JC BUENOS AIRES – O casal Kirchner obteve ontem seu pior resultado eleitoral desde que chegou ao poder, em maio de 2003.
Em um cenário de indefinição, pesquisas de boca de urna divulgadas na noite de ontem pelos principais meios de comunicação indicaram uma apertada vitória do ex-presidente e candidato a deputado pela província de Buenos Aires, Néstor Kirchner.
No entanto, os primeiros dados oficiais divulgados, com 9,7% dos votos apurados na Província de Buenos Aires, colocaram o candidato do peronismo dissidente, o ex-empresário Francisco de Narvaéz, em primeiro lugar, com 35,1%, e Kirchner em segundo, com 32,4%.
O que ficou claro ontem é que o governo da presidente Cristina Kirchner deve ser derrotado na eleição de 127 deputados e 24 senadores (metade da Câmara e um terço do Senado) em importantes províncias argentinas, como Córdoba, Santa Fé, Mendoza e na capital do país.
Neste cenário, o casal Kirchner perde o controle de ambas as Câmaras do Congresso, numa eleição que, segundo dados preliminares, teria registrado um alto índice de abstenção.
Na eleição legislativa de 2007, o kirchnerismo obteve 45% dos votos na província de Buenos Aires.
Ontem, o partido do ex-presidente teria perdido em torno de dez pontos percentuais e, portanto, entre seis e sete cadeiras na Câmara.
Atualmente, o governo Kirchner tem 115 deputados (mais cerca de 20 aliados de partidos minoritários).
A partir de 10 de dezembro, dia em que serão empossados os novos congressistas, a bancada governista ficaria com cerca de 100 representantes, bem abaixo dos 129 votos necessários para aprovar projetos de lei. “Teremos um país mais complicado e um governo mais fraco”, afirmou o analista Joaquin Morales Solá, do jornal La Nación.
Caso se confirme o resultado, pela primeira vez na História do país, um governo peronista não terá maioria no Congresso.
Paralelamente, será a primeira vez que um ex-presidente eleito assumirá como deputado. “Não podemos esquecer que Kirchner apostou tudo o que tinha nesta eleição e não conseguiu o que queria: uma vitória que ratificasse sua liderança nacional”, disse Eduardo Van Der Kooy, do Clarín.
As eleições legislativas de ontem começaram a traçar a lista de possíveis candidatos presidenciais para 2011.
O vice-presidente Julio Cobos, duro opositor do governo, já estaria pensando num projeto nacional.
O que não estava claro era se Kirchner ou Cristina ainda teriam chances de buscar uma reeleição.
RECLAMAÇÃO Alguns candidatos da oposição ao governo da Argentina denunciaram irregularidades nas eleições parlamentares.
As denúncias são relacionadas à suposta falta de cédulas oficiais contendo as listas de cada uma das legendas e sublegendas partidárias.
A coligação entre peronistas dissidentes do Partido Justicialista (PJ) e Proposta Republicana (Pro), Unión-Pro, afirmou que “há sistemas montados para tentar furtar e rasgar as cédulas”. com os nomes de seus candidatos.