Editorial do Jornal do Commercio desta sexta A linha de defesa do presidente do Senado Federal, José Sarney, dono há quase meio século da política maranhense, mas senador pelo Amapá por razões que a própria razão desconhece, não tem mais a solidez de antigamente.

Sua última grande façanha foi convencer muita gente de que o governador eleito e empossado do Maranhão prevaricara, e conseguir seu afastamento para aboletar, mais uma vez, no Palácio dos Leões sua filha, a também senadora Roseana Sarney.

Depois disso, não consegue convencer ninguém de que está longe de ter responsabilidade na atual crise que arrasta na lama a casa legislativa que preside.

Argumentos como “Eu deveria ser julgado com mais respeito.

Sou o parlamentar mais antigo do País”, são risíveis na boca de quem está acostumado a se safar de acusações as mais cabeludas e variadas.

Depois de afirmar que a crise não é dele, mas do Senado, ele anuncia reformas na instituição.

Que reformas?

Dada a sua atual destoante posição de debilidade e também a extensão das responsabilidades, conseguirá mudar alguma coisa?

Todo dia, fica-se sabendo de mais atos secretos, à revelia da Constituição e do bom senso, além de outros escândalos.

E até senadores que clamam no deserto pela moralização, como o petista Eduardo Suplicy, o pedetista Cristovam Buarque, o peemedebista Pedro Simon, estão sendo acusados, embora tenham apresentado explicações.

Não adianta tapar o sol com uma peneira, pois diariamente surgem novas acusações. “Na verdade”, opina o cientista político Sérgio Abranches, “Sarney não quer mudar um sistema político que ele mesmo criou e de que se alimentou”.

E acrescenta: “As oligarquias que tomam conta do Senado não querem isso. É necessário uma revolta da sociedade civil para pressionar os senadores a fazer uma mudança verdadeira, e não uma de faz de conta”.

Outro cientista político, Murillo de Aragão, acha que Sarney “tem legitimidade para promover mudanças, porque ele é o presidente da Casa.

Mas o que lhe falta é isenção.

Afinal, ele é acusado de participar em boa parte dos problemas do Congresso”.

Parece que a intenção do presidente do Senado é esperar o recesso parlamentar para ver se o assunto esfria. “É como um lutador de boxe que espera o fim de um assalto para poder respirar”, diz o historiador Marco Antônio Vila.

Já foi afastado o diretor-geral do Senado, Agaciel Maia, ligado a Sarney desde 1994, quando, segundo amigos dele contaram à revista Época, teria apagado registros da impressão de material de propaganda eleitoral de Roseana Sarney na gráfica do Senado, da qual era diretor.

Mas Maia permanece no controle das principais diretorias da casa e tem um arquivo que assombra muitos parlamentares.

Nenhuma dor de cabeça estaria atrapalhando a vida do controlador do Maranhão se, após ocupar a Presidência da República em decorrência do falecimento de Tancredo Neves (até hoje se discute a constitucionalidade da solução), se houvesse recolhido, como fazem os presidentes dos Estados Unidos, para escrever suas memórias (e romances, no caso dele), e ser conselheiro político das novas gerações.

Ele teria entrado para a história como aquele que, bem ou mal, presidiu a transição democrática.

Mas, tudo indica, alguns dos nossos políticos patrimonialistas são mais insaciáveis que os de países mais desenvolvidos.

Sarney preferiu disputar cargos inferiores ao da suprema magistratura.

Ou, se não o fizesse, teria perdido seu feudo político?

A sociedade brasileira, a opinião pública exigem que seja feita no Senado uma auditoria externa, que sejam afastados os funcionários que ganham sem sequer comparecer ao trabalho ou estão à disposição de variadas excelências pelo País afora (esse “à disposição” quebra qualquer galho), que se corte ao menos pela metade o número de servidores, pois há senadores que reconhecem que é gente demais para trabalho de menos.

E aproveite-se a oportunidade para restabelecer o prestígio e a imagem dos funcionários públicos concursados, restringindo drasticamente a facilidade dos cargos em comissão, que geralmente amparam políticos e cabos eleitorais ruins de voto.

Nos três poderes.

Vamos continuar cobrando.