(Foto: Rodrigo Lobo/JC Imagem) De Cidades/JC Catadores de material reciclável do Grande Recife dificultaram o acesso de caminhões de lixo ao aterro controlado da Muribeca, no município de Jaboatão dos Guararapes, das 8h às 11h30 de ontem.
O protesto serviu para chamar a atenção da sociedade para o encerramento das atividades no aterro, dia 2 de julho próximo.
Com a desativação, 1.268 famílias (mais de três mil pessoas) que sobrevivem do trabalho na Muribeca perderão a fonte de renda. “Quando o aterro for desativado, não sabemos o que vai acontecer com todos nós.
Até agora não temos uma definição das prefeituras”, destaca Mônica Soares de Souza, 35 anos, que cata material reciclável no local há oito anos.
O aterro da Muribeca é o destino final dos resíduos sólidos dos municípios do Recife, parte de Jaboatão e Moreno.
Os catadores separam alumínio, papel, plástico e vidro e vendem a empresas que fazem reciclagem nos Estados de Pernambuco, Bahia, São Paulo e Rio de Janeiro.
Mônica Soares acrescenta que a desativação de Muribeca também terá rebatimento no funcionamento dessas fábricas. “A única coisa que queremos é trabalhar, quem vai dar comidas aos nossos filhos?”, indaga.
Aos 87 anos de idade, Maria José dos Santos criou quatro filhos com a separação do lixo reciclável nos aterros. “Comprei minha casa, em Jardim Piedade, com dinheiro que ganhei no lixo.
Hoje, crio cinco bisnetos com a mesma fonte”, declara Maria José.
Ela está afastada Do trabalho há cinco meses, para se tratar de germes nas mãos. “Peguei isso na Muribeca”, diz.
A mãe dos bisnetos de Maria José trabalhava no aterro, morreu e deixou as crianças para ela tomar conta. “Minha neta adoeceu no lixão”, avalia.
A catadora Francisca Maria da Conceição, 65, acrescenta que o fim do aterro vai acabar com a renda da família inteira. “Eu, meu marido e minha filha dependemos da Muribeca para viver”, avisa Francisca Maria, que trabalha no local há 24 anos.
Rosemere Henrique de Figueiredo, 42, sobrevive da catação de lixo reciclável desde criança. “Comecei com meus pais, há 32 anos.
Criei meus cinco filhos e comprei um barraco em Jardim Jordão com a venda desse material”, declara.
A catadora observa que o preço dos produtos está diminuindo a cada ano.
Conforme Rosemere, o alumínio (mais caro entre os recicláveis), antes vendido por R$ 3,50 o quilo, agora custa R$ 0,50. “O quilo do plástico fino era R$ 0,45 e caiu para R$ 0,30”, lamenta.
Ednílson José da Silva, 24, trabalha no aterro há 13 anos e de lá tira o sustento da família: esposa e quatro filhos pequenos. “Não recebo benefício de programas sociais.
Ganho de R$ 30 a R$ 40 reais por semana”, diz.
Ele mora num barraco de tábuas em Muribeca Rua, Jaboatão.
SOLUÇÃO A Prefeitura do Recife anuncia, amanhã, uma solução com os municípios de Jaboatão e Moreno, que prevê o aproveitamento dos catadores. “Não vamos desampará-los”, garante o secretário de Serviços Públicos do Recife, José Humberto Cavalcanti.
No mesmo dia, o secretário também informa para onde vai levar os resíduos sólidos produzidos na capital, a partir do dia 2 de julho, quando o aterro da Muribeca será desativado, por recomendação do Ministério Público de Pernambuco (MPPE). “Fizemos sondagens de preços com as duas Centrais de Tratamento de Resíduos Sólidos licenciadas no Estado, a CTR Candeias (Jaboatão) e a CTR Pernambuco (Igarassu)”, informa José Humberto.
Uma alternativa para os catadores é a Prefeitura de Jaboatão suspender o embargo da obra de construção do galpão de triagem que o Recife tinha iniciado na Muribeca.
O secretário de Serviços Urbanos de Jaboatão, Evandro Avelar, reforça o compromisso das prefeituras de amparar os catadores e garante que a questão será solucionada com o MPPE.
O coordenador do Centro de Apoio às Promotorias de Meio Ambiente, André Silvani, informa que a reunião programada para o próximo dia 29, no MPPE, foi suspensa a pedido dos promotores das três cidades.
De acordo com Silvani, os promotores preferem requisitar informações aos envolvidos, que terão prazo de dez dias, a contar de hoje, para se pronunciar.