(Foto: José Cruz/ABr) Da Agência Estado Com passos curtos e seguros, vestindo um sobretudo de lã preta, José Ribamar Ferreira de Araújo Costa, 79 anos, entrou na noite de segunda-feira passada na residência oficial do presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP).

Na área externa da casa, em volta do presidente Lula, grupos de políticos e jornalistas conversavam animadamente e esperavam o jantar em homenagem aos participantes da 4ª Conferência Legislativa de Liberdade de Imprensa.

Feitos os cumprimentos protocolares, um José silencioso, que não denunciava a biografia com mais de meio século de poder político, fugiu do burburinho.

Apartado da descontração em torno de Lula e recolhido do frio das noites candangas de junho, o ex-presidente da República, ex-governador de Estado, presidente do Congresso, deputado federal e senador José Sarney ouviu de um jornalista a pergunta: “Presidente, o Senado já está mais ameno?” E Sarney, expondo os indícios do fardo em que se transformou o cargo, respondeu: “Meu filho, aquilo não ameniza nunca.” Era o início da semana em que, depois de todos os escândalos – da hora extra sem limites à profusão de diretores –, o jornal O Estado de S.Paulo revelaria o caso dos atos secretos que fizeram da direção-geral do Senado um guichê de distribuição de empregos e salários entre amigos.

A noite na casa de Temer expôs um Sarney que fez história, mergulhou no vício solitário do poder e vive o autêntico outono do patriarca.

O ocaso da liderança do patriarca Sarney se dá por fatores múltiplos, em que o cronológico é o de menor relevância.

Aos 79 anos de idade, com boa saúde e aparência, Sarney se vê distante da geração dos políticos locais.

Lá se vão 30 anos desde a última vez em que disputou uma eleição no Maranhão, onde a maioria dos atuais prefeitos não o conhece pessoalmente.

Só um projeto nacional em torno de Roseana teria poder de reverter a curva descendente em que ele se encontra, como ocorreu nas eleições de 1994 e 1998, mas principalmente depois da morte do deputado Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA), quando ela passou a ser alternativa das correntes mais conservadoras à sucessão de Fernando Henrique Cardoso.

Veio o caso Lunus – operação da PF que apreendeu mais de R$ 1 milhão em espécie em empresa da família durante a campanha eleitoral –, que alijou Roseana da disputa e jogou Sarney nos braços do PT (ele atribuiu a operação a uma conspiração do hoje governador José Serra, então candidato do PSDB ao Planalto).

Tal cenário gera efeitos semelhantes ao experimentado pelo ex-senador Antônio Carlos Magalhães – assim como Sarney, uma liderança nacional consolidada a partir de um império político regional.

A longevidade da cultura política fisiológica de ambos transformou-os em líderes com doutrinas próprias que passaram a integrar o vocabulário político brasileiro: o “carlismo” e o “sarneysismo”.

Ainda em vida, ACM assistiu à lenta deterioração do carlismo, como Sarney experimenta agora em relação ao sarneysismo.

O grupo carlista sobrevive à morte de ACM na Bahia, mas não dá mais as cartas do jogo político nem está na linha de frente da disputa pelo poder.

Assim como os “sarneysistas” se escoram apenas na figura do patriarca e na posição institucional que Sarney ocupa no Congresso.

Olhando o panorama nacional, a tendência é de declínio.