De Política/JC BRASÍLIA – A suspeita de favorecimento político em convênios da Petrobras com cooperativas agrícolas no Nordeste entrou na mira da CPI que investigará as denúncias contra a estatal no Senado.
A oposição vai cobrar explicações sobre o repasse de verbas do programa de biodiesel a entidades ligadas ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e à Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag).
Os senadores já estudam pedir a convocação do presidente da Petrobras Biocombustível, Miguel Rossetto.
A relação entre as entidades que recebem dinheiro da estatal e os movimentos políticos foi revelada ontem pelo jornal O Globo.
Os contratos foram assinados a título de incentivo à produção de mamona, que até hoje não deu origem a um único litro de combustível.
Só entre março e setembro de 2008, os repasses a três cooperativas subordinadas ao Movimento de Luta pela Terra (MLT) e à Contag somaram R$ 3,5 milhões.
O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) questionou a assinatura de novos convênios de R$ 10 milhões para a produção de mamona, apesar de a Agência Nacional do Petróleo (ANP) já ter descartado o óleo sem mistura como matéria-prima do biodiesel.
Rossetto firmou os contratos menos de duas semanas após assumir o cargo. “O governo montou uma farsa usando a Petrobras.
Esta é a comprovação gritante do mau uso do dinheiro da empresa para fazer política, explorando a ingenuidade da população rural”, criticou o senador tucano, que é suplente da CPI.
Tasso se disse impressionado com a revelação de que milhares de sacas de mamona compradas pela Petrobras se amontoam há mais de dois anos em depósitos espalhados pelo sertão: “Todo mundo sabia que a mamona é inviável para a produção de biodiesel neste momento.
Então, por que insistir nisso?
Das duas, uma: ou incompetência ou má-fé.” Autor do requerimento que criou a CPI, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) defendeu a convocação de Rossetto: “O projeto de biodiesel foi transformado em pretexto para repassar recursos a entidades parceiras do governo.
A reportagem deixa bem nítido o desvio de finalidade na aplicação do dinheiro.
Vamos cobrar a prestação de contas desses contratos, e acho que Rossetto tem que ser ouvido na CPI”.
SILÊNCIO O senador Antônio Carlos Magalhães Júnior (DEM-BA) disse não ver necessidade para os convênios: “Os indícios de uso político são graves, porque a atuação da Contag e do MST não tem nada a ver com as atividades da Petrobras.
Por que a empresa não compra a mamona direto dos agricultores?
Procurada, a Petrobras não se manifestou sobre as declarações dos senadores.
Apesar das críticas de especialistas, a mamona continua a ser um tema recorrente nos discursos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Desde 2004, ele já citou a planta em 94 pronunciamentos, 26 entrevistas e oito edições do seu programa semanal de rádio, segundo pesquisa no site da Presidência da República.
Em agosto do ano passado, um mês após o parecer contrário da ANP, Lula voltou a defender os gastos: “Esses dias, vi uma matéria dizendo que a mamona tinha fracassado no Brasil, e nós ainda nem começamos a dar uma dimensão industrial para o programa de biodiesel através da mamona. (…) Mas aqueles que não acreditam no programa já começam a vender que não vai dar certo”, reclamou, ao inaugurar uma usina de biodiesel da Petrobras em Quixadá (CE).