(Foto: Guga Matos/JC Imagem) Ines Andrade / JC A permanência de Lygia Falcão na Prefeitura do Recife, uma das figuras centrais nos oito anos de governo do ex-prefeito João Paulo, era um dos sinais da continuidade da gestão petista.

Mas Lygia perdeu atribuições, assumindo somente a área de Comunicação na Secretaria de Gestão Estratégica e Comunicação Social.

O processo de transição do governo também não vem ocorrendo de forma tranquila.

Nos primeiros cinco meses do ano, o prefeito João da Costa (PT) passou por sucessivas dificuldades.

Nessa entrevista, concedida na última quarta-feira, Lygia falou da sua decisão de permanecer na administração municipal.

Disse que cumpre uma missão, mas que sua saída pode acontecer a qualquer momento.

Segundo Lygia, o período de transição de governo foi iniciado, mas ainda não foi concluído.

E a falta de algumas definições reflete numa certa insegurança nas equipes. “Há algumas coisas que ainda geram confusão, porque formalmente a estrutura está de um jeito, mas no dia a dia ela já está funcionando, em algumas áreas, de um outro jeito.

Então isso gera até uma certa insegurança nas equipes”, confessou.

A secretária falou ainda da necessidade de maior articulação e integração no atual governo.

E desabafou que se sentia angustiada por não ver tudo em pleno funcionamento.

JORNAL DO COMMERCIO – A senhora tinha mais atribuições no governo anterior.

Quais são suas funções hoje à frente da secretaria?

LYGIA FALCÃO – Antes mesmo do início do seu governo, o prefeito João da Costa insistiu muito para que eu ficasse, porque na verdade eu tinha decidido que não ficaria na gestão, por já ter cumprido a minha missão, por considerar que a gente estava encerrando uma gestão vitoriosa e por eu estar muito cansada.

Convenceram-me que eu tinha de ficar mais um tempo, para que eu pudesse fazer uma transição e tivesse uma saída tranquila.

Minha saída do governo não estava vinculada ao fato de João Paulo assumir um cargo no governo federal.

Até porque não me vejo governo eternamente.

Não nasci governo e nem quero ser governo eterno.

A partir daí, a gente começou a estabelecer algumas coisas para eu ficar, que era diminuir a sobrecarga.

A gente combinou que eu sairia da coordenação do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e que as funções da secretaria seriam redefinidas.

Eu ficaria mais ligada à comunicação e deixaria a gestão estratégica.

Aí seria formatado um novo modelo, vinculado ao gabinete do prefeito.

Seria na própria secretaria, mas com uma outra organização interna.

Atualmente, a secretaria tem três coordenadorias dentro dela, a de Comunicação, a de Gestão Estratégica e a de Relações Internacionais e Captação de Recursos.

JC – Como ficou a gestão?

LYGIA – Há algumas pessoas que estão entrando, Milton Bottler (assessor da Secretaria de Planejamento Participativo), que está junto com Hercílio (Maciel), que é o atual coordenador de gestão estratégica, fazendo uma nova arrumação, para ver como vai ficar essa questão da gestão.

Então a gente está nesse processo sem uma formatação final, porque o prefeito ainda não deliberou como é que vai ficar.

Antes, eu própria, junto com Hercílio, tomava a frente das questões estratégicas do governo.

Agora não sou eu, é com Milton, junto com o próprio prefeito.

Não sei como o prefeito tá encaminhando.

De uma certa forma, ainda não está estruturado esse funcionamento, o que, às vezes, reflete na baixa articulação interna do governo.

JC – Mas já está para sair isso?

LYGIA – O prefeito nunca mais falou sobre isso.

Não sei com que prazo ele está trabalhando.

Ele se dedicou mais às questões que estavam mais urgentes.

Acredito que (isso acontece) agora, depois de resolvida a licitação do lixo, e tudo entrando num clima de menos ansiedade.

Como tem um ligeiro descompasso entre o que estava funcionando e o que vai começar a funcionar e o que não está em funcionamento pleno, acredito que o prefeito agora, passados esses seis meses, ele vai focar mais na gestão dos projetos estratégicos, na discussão do que vai ser importante. É um momento também de redefinição e de planejamento das ações.

JC – Então sendo sua decisão, a senhora não se sente subutilizada?

LYGIA – Eu até toparia, se tivesse que ajudar alguém que fosse assumir a secretaria, ajudar de fora.

E realmente eu estava com minha cabeça toda arrumada para sair, porque tinha se encerrado um ciclo para mim.

Mas por essa insistência, eu fiquei. É claro que me angustia ver quando as coisas não estão em pleno funcionamento.

A gente vinha num ritmo e o governo todo, de certa forma.

A roda girando e as coisas acontecendo com uma certa lógica. É claro que quando isso se quebra dá aquele sentimento de estar meio perdido.

Tem hora que eu digo, ‘meu Deus do céu, será que alguém tá vendo isso?’ Sabe como é?

Mas eu acredito que as coisas vão acontecer, vão se ajustando.

JC – Em entrevista no ano passado, a senhora falou que ficaria no governo, mas se João Paulo lhe convocasse, sairia.

Ele lhe convocou?

LYGIA – Tanto eu quanto o prefeito João da Costa fazemos parte de um grupo político junto ao ex-prefeito João Paulo.

Então é claro que, é como o próprio João da Costa diz, ele está prefeito agora cumprindo uma missão.

E ele está, como Múcio está na Câmara (Múcio Magalhães, presidente da Câmara), e eu estou aqui.

Então se tiver uma outra missão que, sendo convocada por João Paulo, seja importante a minha presença, claro que vou analisar e considerar isso muito importante.

JC – Mas houve convocação?

LYGIA – A convocação é permanente, até porque João Paulo não para.

A gente está combinando em que momento seria adequado, em que momento seria oportuno eu estar lá.

Mas isso é um dos aspectos.

A minha saída ou permanência por mais tempo aqui, não tem só esse componente.

Tem também o meu.

A minha vontade pessoal.

O momento de eu achar que eu já dei a minha cota.

Acho que já estou no crédito (risos).

Estou cumprindo a missão que eu combinei e aceitei.

Isso não tem um prazo estabelecido.

Pode a gente avaliar que está mais próximo de concluir ou que ficar mais um pouco.

JC – Seria após esses ajustes pelos quais a prefeitura está passando?

LYGIA – A gente não estabeleceu um prazo.

A gente vem conversando e, claro, a partir do momento que algo sinalizar que dá para sair…

Eu não tenho algo estabelecido, até porque a gente não estabeleceu mesmo qual seria esse prazo de transição.

Mas é uma discussão permanente.

Pode ser a qualquer momento.

JC – A senhora acha que já cumpriu o seu papel na atual gestão?

LYGIA – O prefeito João da Costa tem uma maneira diferente de agir.

Leva mais tempo de saber o que ele quer.

Então eu tenho cumprido a missão do que está sendo possível cumprir até o momento.

Eu tenho me dedicado, apesar de todas essas dificuldades que a construção da imagem da gestão e da própria imagem do prefeito sofreram neste início de gestão.

Eu como coordenadora da área de Comunicação, claro que fiquei bastante preocupada, e tenho feito de tudo para que a gente possa reverter isso.

E eu cumpro minha missão todos os dias.

Tentando não me sentir em débito com nada.

Então estou fazendo, claro que no compasso dele, respeitando os tempos dele, para perceber até onde é que ele também acha que eu já cumpri.

Eu também preciso saber mais o que é que na cabeça dele está como essa transição, essa rearrumação.

Ela não tá concluída, ela tá iniciada.

Há algumas coisas que ainda geram confusão, porque formalmente a estrutura está de um jeito, mas no dia a dia ela já está funcionando, em algumas áreas, de um outro jeito.

Então isso gera até uma certa insegurança nas equipes.

Outro dia um coordenador chegou me perguntando se era para discutir comigo um assunto e eu disse que não. “É com quem?” E eu disse: “Pergunte ao prefeito com quem ele acha mais adequado para eu não discutir e depois você ter de falar com quem vai está tratando disso”.

JC – O que está faltando para as coisas saírem mais rapidamente?

São essa definições?

LYGIA – O que eu considero é que a gestão de projetos está precisando de um melhor ajuste.

A gestão de fato de governo, das ações de governo, que precisam ser articuladas e discutidas internamente com as várias secretarias e unidades, porque muitos projetos (uma ação de educação, de serviços públicos…) dependem de toda uma ação de integração e de articulação de governo.

Normalmente, claro, uma pasta estará mais à frente por ser ela a que coordena a ação ou porque o resultado final estará ali naquela área.

Mas é muito difícil encontrar uma ação importante, estratégica de governo, que não tenha pelo menos três ou quatro secretarias envolvidas.

Então, para que isso funcione e dê um melhor resultado, é preciso integração, articulação entre as secretarias e a discussão da estratégia antes da ação ser feita.

Eu digo muitas vezes, em reunião, que não adianta – todos nós da área de comunicação sabemos disso e quem não trabalha sabe também – fazer uma ação errada e no final querer que a comunicação dê conta de tudo.

JC – Qual é a sua vontade?

Se João Paulo chamar, é de ir?

LYGIA – Isso, claro, vou também analisar junto com João da Costa, com Múcio, como a gente sempre fez, qual é o melhor papel que cada um pode está cumprindo. Às vezes, eles se espantam quando eu digo que agora eu vou cuidar de projetos fora da política diretamente, que vou trabalhar com projeto de educação ambiental.

Tenho uma loucura para fazer.

Eu queria poder dividir algumas coisas de projetos que são mais de um sonho pessoal e a política.

Eu também gosto de desafios.

Então se João Paulo, se começar a campanha eleitoral e eu puder me dedicar…

Estou dizendo isso porque é uma mistura entre o meu desejo e a necessidade.

Estou analisando e vendo as possibilidades que vão surgir agora por diante.

Ver onde me encaixo.