Cecília Ramos, do JC Com fama de “durona”, a ministra Dilma Rousseff quase foi às lágrimas ao falar do carinho que tem recebido do povo no momento em que enfrenta um câncer linfático.
Ela não pronunciou o nome da doença nos 12 minutos de entrevista concedida à imprensa, sábado à noite, antes de jantar com lideranças do PT, PSB, PDT e PMDB na casa do deputado Wolney Queiroz (PDT), em Caruaru.
Mas falou sobre a quimioterapia e admitiu ter reduzido o “ritmo excessivo” de trabalho. “É óbvio que me sinto mais debilitada”.
Apesar do tema delicado, Dilma mostrou-se afável.
Negou-se, porém, a falar na condição de pré-candidata à sucessão do presidente Lula.
No mais, liberou geral.
Sem restrições alimentares, comeu até sarapatel. “Tem dias que você enfia o pé na jaca, né?”.
Ela dançou forró com os colegas ministros José Múcio e Carlos Lupi.
E brincou: “O Múcio é pé-de-valsa!”.
Dilma só ficou devendo o corpo a corpo com os eleitores, como fez no Carnaval.
Mas esta visita serviu para mostrar que a doença não abalou, até aqui, sua caminhada rumo a 2010.
TESTE ELEITORAL “Não vim (para Caruaru) por esse motivo.
Não estou em campanha aqui, estou numa festa.
Eu vim a convite do governador, no avião do governo do Estado.
Imagino que ele tenha me convidado porque sou ministra.
Conheci ele (Eduardo Campos) nessa condição.
Acho que é importante conhecer todas essas manifestações (culturais).
Eu sou de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul, então acho que é uma oportunidade rara.
Eu estive aqui no Carnaval e fiquei encantada, porque é diferente do resto do Brasil.
Em Pernambuco tem uma participação das pessoas eletrizante.
Hoje é sábado, dia sagrado de descanso.
E eu espero um dos maiores São Joãos do Brasil.
Vocês têm a capacidade de aconchegar”.
PÚBLICO “Todo contato que eu tenho com o Nordeste, sinto uma imensa afetividade das pessoas.
Há uma facilidade das pessoas, aqui, de transmitir sentimento.
Você fala com as pessoas, independente de quem você seja.
Você pede uma informação e é capaz da pessoa te acompanhar até o lugar.
Então, aqui (em Pernambuco), vocês têm essa vantagem. É um baita calor humano!” CULINÁRIA “O Múcio (José Múcio) ficou mais de 20 dias me dizendo: ‘trate de não comer muito porque você vai engordar dois quilos’ (na visita).
E as jornalistas aqui sabem perfeitamente o esforço que a gente faz para perder dois quilos.
Mas estou bem disposta a provar de tudo.
Tem uns dias que você escolhe para enfiar um pouquinho o pé na jaca, né?”.
DATAFOLHA “Eu não avalio (a nova pesquisa aponta queda de oito pontos na distância entre ela e o líder Serra.
A diferença era de 30 pontos e está agora em 22.
Dilma subiu de 11% para 16% e o tucano desceu de 41% para 38%.
A pesquisa também indicou novo crescimento da popularidade de Lula, hoje com 69%).” AS ELEIÇÕES “O presidente tem grande capacidade de análise (Lula afirmou que o seu candidato à sucessão vencerá as eleições de 2010 e Dilma é sua favorita).
Eu acredito que o candidato do governo, seja ele quem for, tem grandes chances de ganhar a eleição”.
CPI DA PETROBRAS “A Petrobras não é uma caixa preta.
Quando houve o escândalo da Enron, uma das maiores empresas de energia do mundo (pediu concordada em 2001, após fraudes contábeis e fiscais), veio a Lei Sarbanes-Oxley (nos EUA), muito rígida.
A Petrobras é listada na Bolsa de Nova Iorque, então ela cumpre os requisitos dessa lei.
Aí, eu pergunto: um investidor que vai investir U$ 1 bilhão não olha a contabilidade da Petrobras?
Não teve nenhuma anotação grave sobre sua contabilidade (…) Não me manifesto sobre a CPI porque não sou parlamentar (negando-se a opinar se a CPI deve investigar a Era FHC)”.
QUIMIOTERAPIA “Eu tenho um ritmo de trabalho muito excessivo.
Mas não mantive.
Estou em um ritmo de trabalho normal.
Tenho ido à Casa Civil sistematicamente e é óbvio que em alguns momentos me sinto mais debilitada, outros eu não sinto nada.
A quimioterapia não é fácil. É bastante desagradável.
Falar que é agradável eu estaria mentindo para vocês.
Mas também não é nada insuportável, que você não saiba que não vai acabar.
Essa é a grande vantagem da quimioterapia.
Ela tem data.
Começa e termina.
Mas quanto mais você melhora, mais chega perto da próxima (sessão)”.
ORAÇÕES “Uma coisa muito importante no nosso País é o sentimento de solidariedade e o fato de que o nosso povo é muito mais compreensivo do que a gente imagina.
A quantidade de pessoas que chega para mim e diz: ‘Olha, eu tive esse problema, eu superei’.
Ou: ‘Eu estou rezando para ti, você vai superar, estou torcendo por ti’. É algo que você…
Inclusive se eu falar muito eu me comovo (faz uma pausa, com olhos marejados e voz embargada).
E as cartas, medalhinhas, as rezas, preces, o carinho…
Por tudo isso, eu só posso agradecer”.