Por Gilvan Oliveira, de Política / JC João da Costa (PT) quebrou um tabu.
Com a sua eleição, pela primeira vez um grupo político manteve-se no comando da Prefeitura do Recife por três mandatos consecutivos.
Mas a gestão dele também vem quebrando outro paradigma.
Nos últimos 20 anos, não houve um início de governo com tantas turbulências.
Queda de braço com os comerciantes da orla de Boa Viagem, crise do lixo e duas greves.
Tudo isso em apenas seis meses.
Joaquim Francisco (1989-1990), Jarbas Vasconcelos (1986-1988 e 1993-1996), Roberto Magalhães (1997-2000) e João Paulo (2001-2004 e 2005-2008) tocaram o primeiro semestre das respectivas administrações longe de grandes crises.
E todos receberam a máquina de um adversário.
Desde quando assumiu, João da Costa vem lidando com uma nova adversidade a cada mês.
Primeiro, a reordenação do comércio na praia de Boa Viagem.
Depois vieram as crises do lixo.
A primeira delas, a da coleta irregular.
A segunda, o embate institucional com a Prefeitura de Jaboatão dos Guararapes sobre a construção de um novo aterro sanitário para as duas cidades.
Por fim, caíram no colo do prefeito duas greves: dos professores da rede municipal e dos servidores da administração direta.
Apresentado como bom gestor, o prefeito trata das dificuldades como “naturais” e “conjunturais”.
Ele nega veementemente que tenha recebido uma “herança maldita” do antecessor e aliado João Paulo (PT).
Mas reconhece um “descompasso” entre a sua equipe e à anterior na transição de governo. “Ampliamos a participação política no governo, seja com partidos ou forças sociais.
Isso leva um tempo para o pessoal se adaptar”, avalia, se dizendo satisfeito com o desempenho dos auxiliares e negando que essa adaptação tenha causado problemas administrativos.
Ele discorda de que o primeiro semestre de sua gestão é marcado por crises (leia entrevista na página 8).
Admite problemas, mas avalia que “estão valorizando mais dificuldades que as realizações” nesse início de seu mandato.
Atribui as difuldades a uma conjuntura desfavorável, que vai da crise econômica internacional a problemas de adaptação na gestão.
Mas ressalta que seu governo já tem o que mostrar.
Mesmo negando “herança maldita”, pelo menos duas adversidades no início de sua gestão tiveram origem na anterior.
A ordenação do comércio em Boa Viagem foi determinada por decreto no último dia da gestão João Paulo.
Coube a Costa apenas executá-lo.
No caso do lixo, os problemas com a coleta estão diretamente relacionados com a licitação não realizada por João Paulo.
Ela estava prevista para dezembro, mas o Tribunal de Contas recomendou sua suspensão apontando irregularidades no edital.
Costa diz que se viu obrigado a renovar o contrato, sem licitação, com a Qualix até a realização de uma nova licitação.
E como esse contrato é temporário, a empresa não realizou os investimentos sem a certeza da sua renovação por um longo período. “A empresa não vai fazer grandes investimentos sem a certeza de um contrato duradouro”, analisa o prefeito.