O deputado Isaltino Nascimento convocou a sociedade pernambucana a participar, na próxima semana, de um protesto contra a decisão do TRF 5ª Região, de condenar o cacique Marcos, da tribo Xucuru, a 10 anos e quatro meses de prisão, em regime fechado, e ao pagamento de 33 dias de multa. “É lamentável assistir a uma decisão estapafúrdia da Justiça Federal, que conseguiu transformar a vítima em algoz e condena-la”, protestou Isaltino, da tribuna da Assembléia Legislativa, na tarde desta quarta-feira (27).

A sentença da Justiça Federal decorre de um dos processos abertos após o cacique Marcos ter sido alvo de atentado, em 7 de fevereiro de 2003, em Cimbres, Pesqueira.

Na ocasião, dois jovens da comunidade Xucuru, que estavam junto com Marcos foram alvejados à bala e mortos.

Ferido, o cacique foi levado para o hospital e sedado.

Enquanto era socorrido na unidade hospitalar, diversos índios foram à procura dos supostos mandantes do crime, que segundo Isaltino, fazem parte da etnia, mas estavam agindo a serviço dos latifundiários que tiveram que desocupar as terras dos Xucuru após a demarcação. “Revoltados de verem mais um cacique ser alvo de atentado (Chicão Xucuru, pai de Marcos foi assassinado em 1998), e ter dois jovens assassinados, os indígenas não se contiveram”, relatou Isaltino, ao dizer que eles tentaram capturar os executores do atentado, terminando em confronto entre as partes.

Para Isaltino, é indignante ver aqueles que lutam pela terra ainda hoje, que tiveram que buscar o interior fugindo dos colonizadores e que até a década de 70 tinham seus cultos proibidos em público serem criminalizados. “O que está acontecendo é uma inversão de valores, numa decisão parcial e arbitrária que só beneficia os poderosos que estão encastelados e protegidos pelo poder econômico”, disse Isaltino.

O parlamentar disse que tal decisão vai de encontro às instâncias democráticas e espera que seja apenas a visão de um juiz e não da Corte Federal.

Isaltino solicitou voto de solidariedade ao cacique Marcos e às demais lideranças indígenas condenadas: Paulo Ferreira Leite, Armando Bezerra Coelho, Rinaldo Feitosa Vieira, Ronnaldo Jorge de Melo, que foram condenados, cada um, a quatro anos e oito meses de prisão e a pagar R$ 50 mil indeni zação pelos prejuízos causados.

O advogado dos indígenas condenados, Gilberto Marques, já recorreu da decisão.

O dia do protesto contra a decisão, a ser realizado na próxima semana, será divulgado ainda esta semana.