Por Sérgio Montenegro Filho, no blog www.polislivre.blogspot.com O resultado era o esperado.

Os deputados engavetaram mais uma vez, ontem, uma proposta de reforma política que iria ser votada na Câmara.

Dessa vez, a explicação é a de que não houve acordo entre os partidos sobre a criação do voto em lista fechada, pelo qual o eleitor vota na legenda, e não diretamente no seu candidato.

Na realidade, porém, o engavetamento de mais uma tentativa de aprimorar o falido sistema eleitoral brasileiro aconteceu por interesses políticos.

Dos próprios políticos, claro.

Diante das discordâncias entre os partidos da base aliada do governo Lula, os líderes entenderam que se o projeto fosse colocado em pauta poderia causar abalos e comprometer as alianças eleitorais em 2010.

Atrapalhando, por conseguinte, o projeto de manutenção do poder nas mãos do atual bloco governista.

Traduzindo em linguagem popular: pela terceira vez, os deputados pensaram neles próprios - e no chefe -, deixando de lado os interesses da sociedade, que já não aguenta mais o atual sistema político-partidário, nocivo para a sociedade, embora benéfico para os detentores de mandato.

Da forma como funciona hoje, ele impede a renovação, desejada por tanta gente que quer ver mudanças profundas na cara do atual Congresso Nacional, desgastado e desmoralizado por infinitos escândalos.

Infelizmente, essas mudanças dependem exatamente da aprovação do Congresso, e embora alguns parlamentares se esforcem para que elas aconteçam, são absoluta minoria.

A ampla maioria continua mesmo é interessada em proteger o status quo, que assegura maiores chances de renovação do mandato.

O mais grave é que o Legislativo atual sequer legisla.

De escândalo em escândalo, de CPI em CPI, vão empurrando com a barriga os cerca de mil projetos que aguardam a pauta para ser votados.

E um dos argumentos - ou melhor dizendo, ameaças - da bancada de oposição, favorável à votação da reforma política, foi a de obtruir a votação de projetos do governo, caso a proposta fosse engavetada.

A resposta governista veio no mesmo tom: se a reforma entrar na pauta, vão obstruir as votações.

Ou seja, de um lado e de outro, a ordem é paralisar os trabalhos.

Uma redundância.

Afinal, com tantas denúncias e tantas picuínhas políticas, há muito tempo já não se vota nada relevante para a vida do cidadão naquela Casa.

Que a cada dia que passa, perde mais e mais importância junto à sociedade.