Jarbas:“É ridícula a justificativa da popularidade para manter alguém no poder” Por Chico Bruno, do blog Política & Cia.
O senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) nos concedeu entrevista em que fala do incomodo em ver seu partido se distanciar da proposta de criação na década de 70, de como convive com os demais senadores do partido no Senado, que não pensa em trocar de partido, avalia o governo Lula e não descarta a possibilidade de ser candidato ao governo de Pernambuco.
CHICO BRUNO - Como se sente um emedebista, no PMDB de hoje?* JARBAS VASCONCELOS* – Não deixa de ser uma tristeza muito grande a gente ver o partido que criou seguir o caminho que segue.
Mas eu sou realista.
Quando o bipartidarismo acabou, no final da década de 1970, o então MDB esteve seriamente ameaçado de extinção, pois várias legendas surgiram derivadas da oposição, como o PP de Tancredo, o PDT de Brizola e o próprio PT de Lula.
Só que a vitória de Tancredo do Colégio Eleitoral, já de volta ao PMDB, levou o partido à descaracterização por causa da chegada ao poder.
Lembre-se que em 1986 o partido chegou a eleger 26 dos 27 governadores.
Com toda essa força, no entanto, na eleição presidencial de 1989, Doutor Ulysses ficou em sétimo lugar, com menos de 5% dos votos.
De lá para cá, tem sido nessa pisada: o PMDB elege muitos prefeitos, vereadores, deputados, governadores e senadores para não consegue apresentar um nome para a eleição presidencial e pior: não tem uma proposta, uma bandeira para apresentar aos brasileiros.
CB - Como é sua convivência com os senadores do PMDB que apóiam o governo Lula?
JV – Eu hoje integro um grupo que talvez represente menos de 10% do partido, portanto essa convivência varia de senador para senador.
Eu tento evitar misturar questão política com a questão pessoal.
Mas hoje as pessoas não aceitam opinião contrária.
Há uma tendência de criminalizar o exercício democrático da oposição.
O atual Governo não se sente saciado com a maioria.
O Governo quer a unanimidade.
E eu concordo com Nelson Rodrigues de que toda unanimidade é burra.
CB - Já pensou em trocar de partido?
O PSDB seria uma alternativa?* JV – Tenho muitos amigos no PSDB.
Mas não penso em sair do PMDB.
Isso só seria viável após uma Reforma Política séria, que abra espaço também para uma reforma partidária.
CB - Como define o governo Lula?
Onde ele acertou?
Onde errou nos seis anos de governo?* JV – Sabe qual foi o principal acerto do Governo Lula: manter os preceitos da política econômica dos Governos Itamar e Fernando Henrique.
Lula deixou de lado a política que o PT pregava antes de chegar ao poder.
Teve sorte de pegar uma conjuntura econômica internacional extremamente favorável, mas mesmo assim crescemos pouco.
Na área social, começou com o Fome Zero, como viu que não daria certo, resolveu pegar os diversos programas sociais criados por FHC e apresentou o Bolsa Família.
O maior erro do Governo Lula se deu na área política, em minha opinião.
Nunca na história desse País, um presidente da República foi tão complacente e permissivo com as coisas erradas.
Se quem cometeu o erro era da sua base política, Lula se apressava logo em relativizar a irregularidade, se apressava em dizer que sempre foi assim, que não era novidade.
O fato de a corrupção sempre existir não quer dizer que a gente tenha de apoiar, de fazer vista grossa.
Outro erro do Governo Lula foi o aparelhamento feito na máquina pública federal.
Os petistas se encontram hoje infiltrados no setor público.
Usam e abusam de recursos públicos e da estrutura de poder para cometer irregularidades as mais diversas.
Daí o medo de que um candidato da oposição vença as eleições em 2010.
Daí vem o terrorismo político, de que a oposição vai acabar o Bolsa Família, de que a oposição vai privatizar a Petrobrás, a Caixa Econômica e o Banco do Brasil.
Essas três empresas públicas têm uma longa história.
São três patrimônios dos brasileiros.
Existem para promover o desenvolvimento do País e não para servir aos interesses do PT e dos seus satélites – entre os quais, infelizmente, se encontra o PMDB.
Quanto ao Bolsa Família, o programa será mantido.
Num país pobre como o Brasil é necessária uma política compensatória.
Tão necessária que começou a existir antes mesma do Lula virar presidente.
O que vai deixar de existir é a manipulação política que existe no programa.
CB - Ao que atribui a popularidade de Lula?
JV – A manutenção da política econômica por um lado e a expansão dos programas sociais.
Não devemos esquecer também a própria trajetória de vida de Lula, de sair do Nordeste e se transformar num líder sindical, num líder político em São Paulo.
Essa história tem um apelo muito grande não apenas entre os mais pobres, mas também na classe média.
CB - Autossuficiência do petróleo, PAC, Minha Casa Minha Vida, pré-sal e outros programas e ações do governo Lula são factíveis ou factóides?* JV – O Governo Lula usou a propaganda como nunca se usou antes no Brasil.
E olhe que o PT criticava isso nos governos anteriores.
O PAC, por exemplo, não é nada diferente de outros programas, como o Brasil em Ação.
A Petrobrás é uma empresa que vem obtendo resultados importantes há décadas. É uma empresa com um excelente quadro técnico.
O ruim é quando o Governo tenta aparelhar, tenta influenciar politicamente e ideologicamente uma empresa pública.
Mas Lula vive no palanque.
Entra e sai eleição e ele mantém a mesma retórica palanqueira.
Isso não é bom para o Governo e nem para a administração pública.
Outra coisa.
Ele diz uma coisa numa semana e uma semana depois diz outra.
Não importa para o presidente a coerência e nem a consequência.
O que importa é o discurso.
CB - O movimento queremista de alguns membros da base aliada de Lula tem chance de prosperar?* JV – Seria muito ruim para o Brasil se prosperasse essa ideia de um terceiro mandato para o presidente Lula. É ridícula a justificativa da popularidade para manter alguém no poder.
Se for assim, trazemos de volta a Monarquia.
A democracia implica em alternância no poder.
Se for aprovado um terceiro mandato, o que impediria um quarto, um quinto mandato?