Da Agência Estado O ministro da Fazenda, Guido Mantega, admitiu nesta sexta-feira, 22, que o aumento da entrada de dólares no País, que provocou a desvalorização do dólar frente ao real, é uma fonte de preocupação para o governo.

Segundo ele, esse movimento é um reflexo das condições que o Brasil oferece aos investidores externos, como segurança, estabilidade e oportunidade de negócios, em um momento de instabilidade internacional.

Nesta sexta, mais uma vez o dólar opera em queda. Às 13h27, é negociado a R$ 2,0290, em baixa de 0,29%.

No patamar mínimo do dia chegou a R$ 2,0140.

Nos últimos dias, para evitar uma queda mais forte do dólar, o BC comprou cerca de US$ 2,4 bilhões, metade na quarta-feira.

Ontem, o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, também demonstrou a mesma preocupação com o real mais forte.

Ele mudou o tom do discurso sobre o rumo da moeda americana e fez um alerta sobre eventual otimismo exacerbado nas apostas no mercado de câmbio.

Meirelles falou de movimentos “súbitos” e lembrou que, no passado recente, algumas empresas perderam bilhões com a alta inesperada do dólar. “Temos alertado já há bastante tempo contra o excesso de euforia, contra o excesso de movimento de precificação de ativos e de riscos”, disse ontem, em cerimônia na sede do BC.

Mantega também reconheceu que o real valorizado prejudica o setor produtivo, a agricultura e os exportadores, mas ponderou que esse fenômeno também tem um lado positivo, pois reflete o maior interesse dos investidores no País. “Essa valorização do câmbio já é um reflexo desse entusiasmo dos outros países para virem para o Brasil”, disse o ministro após participar de seminário promovido pela revista Carta Capital na capital paulista. “É claro que essa valorização atrapalha.

Atrapalha o setor produtivo, os exportadores, a agricultura, etc.

Então, de fato, ela é uma fonte de preocupação.” Juros altos atraem mais dólares Questionado sobre se a valorização cambial poderia acelerar a queda da taxa básica de juros, Mantega respondeu que o BC já deu sinais de que haverá continuidade na diminuição da Selic. “Meirelles tem falado nisso e, portanto, acredito que essa é a direção correta”, declarou.

Ele acrescentou ainda que as instituições financeiras públicas e privadas precisam reduzir os spreads bancários mais fortemente.

Apesar dos alertas de Meirelles ontem, prevalece a previsão de que o dólar deve continuar apontando para baixo, resultado do forte ingresso de recursos no País.

O Ministério da Fazenda já trabalhava com um cenário em que o fluxo, à medida que o pior da crise fosse deixado para trás, retornasse para o Brasil.

Para a Fazenda, a combinação de juros elevados com um país seguro - com a economia arrumada e reservas elevadas - naturalmente atrai dólares, seja para investimentos em títulos, ações ou produção.

O BC considera que a valorização do real, provocada pelo ingresso de dólares, é resultado da percepção de menor risco e da alta do preço das commodities.

Diante desse cenário, a estratégia do BC é a de adquirir dólares no mercado para recompor e reforçar as reservas.

No auge da crise, as intervenções do BC para conter a disparada da moeda americana envolveram cerca de US$ 36 bilhões, entre vendas no mercado à vista e operações no mercado futuro.

Em tese, o BC ainda pode acumular mais reservas para fazer frente a um aporte de US$ 4,5 bilhões no Fundo Monetário Internacional (FMI) e R$ 10 bilhões acordados por Mantega para a União de Nações Sul-Americanas (Unasul).

Muitos analistas avaliam que tantos dólares têm entrado pela chamada arbitragem, operação que se beneficia da diferença de juros entre países.

A taxa básica brasileira, de 10,25%, é uma das mais altas do mundo hoje.

O BC, porém, acredita que a principal razão para a alta do real não é a arbitragem, mas a posição de investidores no mercado futuro.

Ontem, por exemplo, o dólar futuro de junho caiu 0,10%, para R$ 2,036, embora tenha subido 0,35% (para R$ 2,035) no mercado à vista.