No JC de hoje Falas do médico Plínio Duque, pai do professor Igor de Siqueira Duque, assassinado semana passada, na Tamarineira.

RECIFE Tenho um sentimento de medo.

Tenho medo de sair às ruas, de fazer minhas atividades normais do meu trabalho, medo de que aconteça alguma coisa a minha família, medo que ocorra alguma tragédia com meus amigos ou conhecidos.

Todos os dias, temos notícias de conhecidos que foram assaltados e mortos, como aconteceu com meu filho.

Basta dizer que, em fevereiro, meu filho mais velho foi assaltado com revólver na cabeça na porta da minha casa e levaram o carro dele e, em novembro passado, fui assaltado em plena luz do dia, na Rua Amélia, por dois ladrões que levaram alguns pertences.

Vivemos numa cidade sem tranquilidade.

LEI A população está desassistida.

A população está desprotegida por vários motivos.

Não é só de ordem local não.

De ordem até nacional.

Primeiro, o País ainda possui leis obsoletas e brandas demais.

Não sou a favor da pena de morte, mas nossas leis são brandas.

Sou a favor da redução da maioridade penal para os 16 e maior rigor da lei.

MAU GOSTO O governador precisa se empenhar mais como o avô (Miguel Arraes) se empenhava para defender o povo.

Não conheço o secretário de Defesa Social (Servilho Paiva), mas acho que as declarações dele foram, diante de uma família enlutada, de muito mau gosto, principalmente quando diz que “não podem transformar isso (assassinato de Igor) num pandemônio”.

Como se fosse o assassinato do meu filho um fato pontual.

Disseram-me que no dia em que Igor foi assassinado houve outros 17 assassinatos em Pernambuco.

Não é um fato pontual. É uma guerra.

Uma coisa gritante que acontece aqui em Pernambuco.

Eu me sinto desprotegido.

A polícia, muito bem intencionada, é desaparelhada em termos de tecnologia.

O Legislativo com leis que são muito brandas.

E o Poder Judiciário não tem empenho para tentar resolver as coisas.

PACTO PELA VIDA Tenho visto pouco resultado do Pacto pela Vida (programa de redução da violência lançado há dois anos).

O governo se vangloriar porque conseguiu uma redução de 2% no número de homicídios de um ano para outro é ridículo. É ridículo se vangloriar disso.

Não temos segurança para viver no Recife.

Temos um sentimento de muita dor.

Não é natural o pai enterrar o filho.

O normal seria acontecer justamente o contrário. É uma dor maior do que enterrarmos o nosso pai, um irmão.

A perda de um filho é uma dor indescritível. É uma mutilação que nós sofremos.

POLÍCIA A polícia não pode ser culpada.

Ela é desaparelhada.

Ela não tem meios.

Não tem uma política dirigida para se fazer uma repressão maior, uma ostensividade maior.

A polícia não aborda ninguém.

SILÊNCIO OFICIAL Não estamos recebendo nenhuma informação da polícia em relação às investigações.

Apenas estamos recebendo informações de delegados amigos, que não têm nada com o caso.

Existe um delegado aposentado amigo da família.

Só isso.

São eles que nos trazem algumas informações.

Oficialmente, não recebemos nenhuma informação.

Queremos acreditar que os assassinos de Igor vão ser presos.

LEMBRANÇA Igor era uma pessoa muito alegre e tinha muita vontade de viver.

Estamos num momento de muita dor.

Não sabemos como vai ser nosso futuro.

Temos mais dois filhos e temos que pensar neles agora.

Estão sobrevivendo até agora.

Foi arrancado um pedaço de nós.

Quando cheguei ao local, meu filho já estava morto.

Foi na esquina da minha rua.

A sociedade ainda é passiva.

Ainda acha que não vai acontecer esse tipo de coisa com alguém próximo.

Precisamos nos organizar.

Precisamos exigir.

Vamos conversar com advogados.

Não basta vestir branco e sair em passeata pedindo a paz.

Isso é feito todos os anos.

A sociedade tem que pressionar o governo, exigir do governo e acioná-lo judicialmente por um direito nosso. É o direito à vida.