Deu em O Estado de S.
Paulo A visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Arábia Saudita, a primeira de um chefe de Estado brasileiro ao país, “destravou” as negociações visando a um acordo de livre comércio entre o Mercosul e as nações do Conselho de Cooperação do Golfo (GCC, na sigla em inglês).
A afirmação foi feita pelo assessor especial da presidência, Marco Aurélio Garcia, neste domingo, 17, durante um encontro entre a delegação brasileira e líderes empresariais em Riade. “Um bem sucedido acordo entre o Mercosul e o Conselho de Cooperação do Golfo dará novo impulso ao nosso comércio bilateral”, afirmou Lula.
O presidente está na capital saudita acompanhado da primeira-dama, Marisa Letícia, e dos ministros das Relações Exteriores, Celso Amorim, do Desenvolvimento e da Indústria e do Comércio, Miguel Jorge, e da Comunicação Social, Franklin Martins, além de Garcia.
Neste domingo, Lula almoçou com empresários sauditas na sede da Câmara de Comércio e Indústria de Riade.
Em pronunciamento, o presidente reforçou a intenção de estimular as trocas comerciais entre os dois países - que já tiveram um aumento superior a 70% em 2008, comparado ao ano anterior.
Ele destacou ainda a necessidade de avanços nas negociações entre o Mercosul e o GCC.
O presidente disse ainda que as companhias brasileiras podem aproveitar oportunidades de negócios na indústria petrolífera, na mineração, na engenharia e nos agronegócios, entre outros setores. “Uma nova era começa nas relações entre a Arábia Saudita e o Brasil.” Os contatos políticos e econômicos mais importantes da visita foram realizados na noite de sábado, quando o presidente foi recebido para um jantar pelo rei saudita Abdullah bin Abdulaziz al Saud.
As conversas entre os chefes de Estado aconteceram durante o banquete e logo a seguir, em uma reunião bilateral programada para durar 10 minutos, mas que acabou consumindo meia hora a mais.
América Latina Segundo Garcia, o presidente e o rei discutiram a atualidade política da América Latina, conversaram sobre suas primeiras impressões a respeito do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e trocaram elogios sobre o processo de paz entre Israel e Palestina.
Em meio a estes assuntos, Lula e o rei Abdullah abordaram as negociações para o estabelecimento do acordo de livre comércio entre a Arábia Saudita, o Catar, o Kuait, os Emirados Árabes Unidos, Omã e o Bahrein, as seis nações do GCC, e o Mercosul.
O tema já havia sido objeto de debate durante o encontro entre o brasileiro e o secretário-geral do bloco, Abdul Rahman al Attiya, no início da noite de sábado. “Este assunto foi destravado.
Agora soltamos os freios de mão”, definiu Garcia, referindo-se à resistência de companhias do meio petroquímico latino-americano em abrir seu mercado para a competição com as empresas árabes, cujo know how e a competitividade no setor são elevados. “Acho que com a Venezuela não haverá problemas, nem mesmo com a Argentina.” De acordo com o assessor especial da presidência, a ordem é para que as negociações visando à queda de tarifas alfandegárias avancem de forma a evitar a concorrência predatória e preservar companhias latino-americanas e árabes.
Uma das soluções cogitadas, segundo Garcia, é a criação de joint ventures entre a Petrobras e empresas brasileiras e sauditas. “O presidente foi explícito em afirmar que quer uma cooperação na indústria petroquímica.” Entretanto, a retomada dos diálogos não resultou na criação de um calendário para as negociações futuras.
A criação da área de livre comércio foi aberta na primeira Cúpula América Latina-Países Árabes, em 2005, e reforçada em março, na segunda cúpula, realizada em Doha, no Catar.