No Blog de Josias O ministro José Múcio, coordenador político de Lula, escora-se na impopularidade do Congresso para defender a propalada reforma política. “Quando você tem o presidente da República superbem avaliado e o Congresso com uma avaliação lá embaixo, alguma coisa está acontecendo na nossa democracia…” “…As pessoas começam a achar que o poder da representatividade torna-se prescindível.

Sabemos que não existe democracia sem Legislativo”.

Múcio desfiou seus argumentos em entrevista à repórter Carolina Bahia.

Ela lhe perguntou se não são os parlamentares os culpados pelo desprestígio do Legislativo.

E Múcio: “Você pode pôr a culpa nos parlamentares e pode pôr a culpa no critério de escolha…” “…Quando um candidato a vereador, a deputado, vai pedir voto, ninguém pergunta quantos projetos ele relatou, quantos livros leu…” “…Quem mentir mais, quem enganar melhor, tem chance.

Muitas vezes homens de bem são substituídos por vendedores de ilusão”.

Acha mesmo que a reforma política, reduzida ao voto em lista partidária e ao financiamento público, vai resolver a encrenca? “O presidente tem o apoio de 14 a 15 partidos.

Tem?

Não.

Dentro dos partidos há facções, interesses diversos.

Primeiro a gente precisa fortalecer os partidos…” “…Meu partido [PTB] pensa a mesma coisa no Rio Grande do Sul, no Amazonas?

Quando crescem, os partidos viram vários segmentos…” “…Se o melhor jogador do seu time for embora, você continua com o time.

Isso porque ele tem bandeira, torcida…” “…Em um partido, quando um político sai, os eleitores vão atrás dele”.

Do modo como foi concebida, a reforma intima o eleitor a financiar eleições nas quais não terá o direito de escolher o candidato de sua preferência.

O voto vai para a legenda.

Abertas as urnas, elegem-se os nomes mais bem postos das listas definidas previamente pela caciquia que dá as cartas em cada partido.

Esse voto em lista não afasta o eleitor do eleito, privando-o de cobrar dos políticos que ajudou a eleger?

Múcio responde com jeito de peixe ensaboado: “Vai deixar de ter a fulanização das ideias.

Hoje eu penso assim, meu colega de partido não.

Quem vai defender a ideia não sou eu, é o partido”.

Mas afinal, essa coisa vai passar no Congresso em tempo de ser aplicada nas eleições de 2010? “Para aprovar a reforma, precisamos juntar os partidos da base [governista] e da oposição.

Há partidos da base que hoje querem, outros não…” “…Na próxima semana tem uma reunião grande com esse grupo [governista] aqui.

Vamos ver o que nos une.

O governo deseja fazer a reforma política…” “…Tem gente achando que dá para aprovar para o próximo ano a lista com financiamento público.

Eu considero muito complicado.

Mas vamos tentar tudo”.

Sobre a chantagem do PMDB, que ameaçou retaliar o governo no Congresso depois que parentes de seus líderes perderam cargos na Infraero, Múcio finge-se de desentendido: “Não sei se foi por cargo da Infraero.

E não é o PMDB.

O fato de ser um ano pré-eleitoral já provoca o início de manifestações independentes no Congresso.

Cada deputado tem seus interesses”.

Espremido entre peemedebistas e petistas que gostariam de levar sua cabeça à bandeja, Múcio realça as agruras de sua função: “Não é um cargo fácil.

Eu não decido, eu não faço, eu apenas materializo o que o presidente da República quer…” “…O articulador político é o presidente.

Meu papel é intermediar os interesses”.

E que interesses!

Candidato a uma cadeira de ministro do TCU, Múcio usa o óbvio como escudo: “Essa é a vaga do presidente, indicação pessoal dele”.