A revista Veja reproduz, na forma de pergunta e resposta, parte do depoimento dela. - Como era a relação de Marcelo Cavalcante com Yeda Crusius?

Era assim: na campanha ela ligava para ele a todo instante e pedia: “Marcelinho, precisamos arranjar R$ 10 mil para isso e aquilo”.

E ele arranjava. - Era ele, então, quem coletava doações?

Se havia um dinheiro para receber, Marcelo pegava e entregava a Carlos Crusius [marido da governadora].

No começo [DA CAMPANHA], tinha de convencer as pessoas a colaborar.

Quando Yeda começou a subir nas pesquisas, ficou mais fácil […].

Só que esse dinheiro não entrava para o caixa. - Ia para onde?

Olha, entre o fim do segundo turno eleitoral e a semana posterior à eleição, Marcelo recebeu R$ 400 mil de dois fabricantes de cigarro, R$ 200 mil de cada um.

Ambos pediram para que a verba não fosse entregue oficialmente.

Então, foi para o caixa dois. - Marcelo falava em caixa dois?

Até do caixa dois do caixa dois.

Marcelo deu os R$ 400 mil reais a Carlos Crusius no comitê da campanha.

Crusius agradeceu e foi para uma sala mais reservada, enquanto Marcelo conversava com fornecedores que esperavam para receber o dinheiro que lhes deviam.

Aí, Crusius apareceu e disse: “Quero me desculpar.

Não conseguimos o dinheiro.

Vamos precisar de mais um prazo.

Espero sua compreensão”. - Como Marcelo reagiu?

Foi tirar satisfações com Crusius.

Ele sempre me repetia essa história.

Contava que disse a Crusius: “Como não tem dinheiro?

Entreguei na sua mão”.

Marcelo acreditava que Crusius escondia tudo da governadora.

Mas ela justificou a história.

Chegou e disse: “Marcelinho, Crusius quer pagar uma dívida antiga nossa que está apertando a gente e, se sair na mídia, não vai ser bom”.

Marcelo se indagava sobre que dívida era aquela.

Ele, que cuidava das finanças dela, não conhecia essa dívida. - O que foi feito dos R$ 400 mil?

Passado algum tempo, Crusius finalizou a compra de uma casa.

Pelo que o Marcelo contava, usou os R$ 400 mil nisso. - A casa da governadora? É […]. - Quem gravou esses áudios? […]Lair Ferst.

Ele ajudou Marcelo a arrecadar dinheiro.

Entre 2006 e 2007, eles se encontraram diversas vezes.

Em novembro, Lair contou a Marcelo que tinha gravado todos esses diálogos e que ia entregá-los à Justiça. - Marcelo avisou o governo Yeda?

Sim.

Sugeriu que fizessem um acordo com Lair […]. - A senhora ouviu as gravações?

Ouvi.

São conversas em barzinhos.

Em janeiro, Marcelo foi procurado pela Justiça para confirmar se a voz nas gravações era dele e se tudo aquilo que ele dizia nelas era verdade.

Estava com depoimento marcado entre a semana do Carnaval e a seguinte, mas morreu antes disso… - Marcelo lhe disse que iria confirmar que a voz das gravações era dele?

Sim.