Lula responsabiliza oposição por ‘fuga’ da poupança Privadamente, presidente diz que rivais fazem ‘terrorismo’ Em nota, PSDB, DEM e PPS levam caderneta ao ‘palanque’ Ata do Copom faz alusão velada à mexida na remuneração No Blog de Josias A caderneta de poupança virou instrumento de guerra política.
O governo planeja mexer na remuneração da poupança.
E a oposição decidiu utilizar-se do fato para fustigar Lula.
A intenção de bulir na poupança foi tonificada nesta quinta (7).
Deu-se por meio da divulgação da ata da última reunião do Copom.
O texto, disponível aqui, sinaliza para novas quedas na taxa de juros.
Mas o BC como que condiciona a poda da Selic à mexida na caderneta. É o que está insinuado na seguinte frase da ata do Copom: “O Comitê [de Política Monetária] entende…” “…Que a continuidade da flexibilização monetária…” “…Torna premente a atualização de aspectos…” “…Resultantes do longo período de inflação elevada".
Hoje, a poupança rende TR mais 0,5% ao mês.
Garante, assim, 6% ao ano.
Livre de impostos.
Com a queda da Selic, tornou-se atraente para grandes aplicadores.
Para o BC, a remuneação fixa é incompatível com o novo cenário.
Uma conjuntura que mistura inflação sob controle e juros cadentes.
Daí a intenção de modificar a remuneração da poupança.
A oposição farejou nos planos do governo uma oportunidade política.
O PPS iniciou o movimento, levando à TV o bordão “Na poupança não”.
Nesta quinta (7), PSDB e DEM aderiram ao movimento.
As três legendas levaram à web uma nota conjunta (aqui, aqui e aqui).
Eis o título da nota: “Em Defesa da Caderneta de Poupança”.
Um trecho: “Mexer na poupança significa penalizar duplamente o trabalhador:…” “…Com o desemprego causado pela crise econômica…” “…E com o risco de ver suas economias corroídas”.
Em conversa reservada com dois auxiliares, Lula acusou o golpe, como se diz.
Referiu-se ao presidente do PPS, Roberto Freire, em termos de calão raso.
Não sabia ainda que tucanos e ‘demos’ haviam aderido ao coro.
O presidente acusou o PPS de fazer “terrorismo” financeiro.
Algo que, na sua opinião, já está provocando uma “fuga” da poupança.
Em abril, diz o BC, os saques superaram os depósitos em R$ 941,55 milhões.
O texto da oposição inclui uma vacina contra a pregação de Lula.
Anota: “[…] Foi o presidente Lula […] que criou incerteza sobre a […] poupança”. “Foi ele quem, no dia 16 de março passado […], afirmou que o governo iria intervir na poupança”.
A lógica indica que a razão não está nem com Lula nem com a oposição.
Mais de 90% dos depósitos em poupança não inferiores a R$ 5 mil.
Esse tipo de aplicador, por miúdo, obteria rendimento menor se migrasse para os fundos de investimento disponíveis na praça.
Assim, os saques nem foram motivados pelo “terrorismo” da oposição nem pela entrevista de Lula.
O mais provável é que o pequeno investidor tenha sacado suas economias por duas razões: 1.
Ou teve de recorrer às reservas para liquidar dívidas; 2.
Ou sacou para consumir.
Convém lembrar, a propósito: O governo fez um convite ao consumo ao reduzir o IPI.
Reduziu-o para carros, motos, material de construção e eletrodomésticos.
Não há clareza, por ora, sobre como o governo vai mexer na poupança.
Eventuais alterações na TR passam necessariamente pelo Banco Central.
Dependem também da aprovação do Congresso Nacional.
De concreto, tem-se apenas a convicção de que o tema, embora técnico, foi lançado na fogueira em que ardem as desavenças políticas.