O diário espanhol El País compara os problemas enfrentados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva em seus dois mandatos com “as tentações de Cristo no deserto” e afirma que o câncer linfático recém-descoberto pela ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, é o seu mais recente desafio.
O artigo, publicado nesta sexta-feira na versão online do jornal, diz que Lula já passou incólume por três “tentações” - a crise do mensalão, a pressão por um terceiro mandato e a crise econômica mundial. “(Lula) não sucumbiu a nenhuma delas”, afirma o texto do correspondente Juan Arias. “Com Cristo, o demônio se conformou com as três tentações do deserto.
A Lula, ele não deixa em paz”, afirma.
O artigo observa que Lula havia escolhido Dilma como sua candidata a sucedê-lo na Presidência para as eleições do ano que vem, mas que o anúncio feito pela ministra no último fim de semana, de que passará por um tratamento quimioterápico para tratar um linfoma, trouxe um novo dilema para o presidente. “Que fazer?
O mundo político está em ebulição.
O governo não tem neste momento uma proposta factível para derrotar os possíveis candidatos da oposição, sobretudo o governador de São Paulo, José Serra”, diz o texto. “Lula tem duas opções: nomear outro candidato ou manter a candidatura de Dilma, como fez num primeiro momento, afirmando que o Brasil precisa de uma mulher como ela, que soube sair incólume das torturas durante a ditadura militar e que superará agora a nova prova do câncer”, observa. ‘Lince político’ O artigo relata que Lula pediu recentemente que o povo brasileiro reze pela ministra e que voltou a levá-la para inaugurações de obras, levando o governo a ser acusado de “instrumentalizar a enfermidade da ministra, pouco popular, para fortalecer sua candidatura, sobretudo entre os mais pobres”. “Lula, que é um lince político, já se adiantou a dizer que ’não se brinca com essas coisas’. É o que pede a oposição”, comenta o texto, que questiona: “É definitiva a decisão de Lula?”. “Lula não pode errar. É possível que organize alguma pesquisa para uso exclusivo do governo para saber se o fator doença de sua ministra lhe dará ou tirará votos.
Depois decidirá’, diz o artigo. “Até agora, seu instinto de animal político nunca o enganou.
E este é o temor da oposição: que volte a acertar”, conclui o jornal. do UOL Notícias