Por Roseane Albuquerque Da Rádio Jornal em Petrolina Com a sua habitual tranquilidade, Júlio Lóssio (PMDB), prefeito de Petrolina, nos recebeu em seu gabinete para falar sobre os primeiros quatro meses de gestão frente a uma das mais importantes prefeituras do estado.
Com voz mansa, mas ao mesmo tempo firme, falou sobre as dívidas, as frustrações iniciais, a relação com a Câmara.
Em todo os momentos fez questão de pontuar que o desafio é grande, no entanto, estimulador. “A luta é difícil, mas não invencível.
Tenho me dedicado a ao ajuste fiscal.
Depois de equilibrar contas, sim, vamos poder fazer muitas coisas que estão em nosso planejamento”, destaca.
Oftalmologista, Júlio adianta que deve promover uma profunda discussão sobre o modelo da saúde pública.
Com muito bom humor, ri sobre os boatos que circularam na cidade, dando conta de uma provável renúncia. “Realmente renunciei: aos amigos, parte da convivência com filhos e minha esposa, renunciei aos meus pacientes, a fazer cirurgias.
Agora, não vou renunciar um presente que Deus me deu, que o povo me deu.
Peço desculpas a esses que criaram esta história.
Certamente são pessoas não serão prefeito porque pensam pequeno e não respeitam a democracia.
Tenho orgulho de ser prefeito de Petrolina, de ver obras começando, estar perto das pessoas.
Eu tenho a acreditar que vamos vencer estes quatro anos com alegria e tranquilidade.
Jornal do Commércio – Em quatro meses à frente da prefeitura da maior cidade do sertão, qual o balanço que o senhor faz?
Já dá para dizer em que real situação a prefeitura foi encontrada?
Júlio Lóssio – Temos mais de R$ 120 milhões de dívidas de pequeno, médio e longo prazo, e isso deixa qualquer casa desarrumada do ponto de vista fiscal.
No entanto, isso não nos desanima porque Petrolina inteira sabia que a prefeitura se encontrava numa situação financeira de dificuldade.
O propósito esse ano é buscar ajuste fiscal, negociar dívidas, buscar recursos. É uma luta difícil, mas não invencível.
A prefeitura é a grande provedora da cidade, portanto precisa ter fôlego para realizar ações.
JC – A área da saúde foi um dos principais motes de sua campanha e certamente um dos setores mais emblemáticos: dificuldade de contratar médicos, formar equipes de PSF.
Como melhorar o atendimento e descentralizar as ações de saúde?
Júlio Lóssio – Nós temos dois grandes hospitais, o de Traumas e o Dom Malan.
Não tivemos alocados pelos governos federal e estadual, recursos para conduzir estas duas unidades.
Graças a Deus estamos no início da gestão e estamos estudando os fundamentos financeiros e a estrutura física que recebemos.
Aí eu convido a população que visite os postos de saúde dos seu bairro: faltam portas, medicamentos, falta praticamente tudo.
Aos poucos, buscamos trazer dignidade aos postos.
Estamos com oito postos selecionados para iniciarmos as reformas.
Evidentemente que a pressa do poder público não caminha da mesma forma da iniciativa privada.
Na pública existe a licitação, temos que obedecer prazos que ultrapassam os nossos desejos.
Vamos buscar contratar médicos.
Não é fácil, existe uma defasagem entre o que o médico recebe e o que ele trabalha.
Precisamos equilibrar isso, o que será feito com paciência.
JC – Nesse sentido existe alguma sinalização dos governos federal e estadual para ajudar nessa implementação da área da saúde?
Júlio Lóssio - Sinalizam sim, mas historicamente esta ajuda tem sido pequena.
A grande verdade é que a maioria dos recursos está concentrada na região metropolitana.
Petrolina recebe pacientes de toda macro-região do sertão mas só recebe 2 a 3% dos recursos de alta complexidade, quando deveríamos receber cerca de 10%.
O governos ajudam, mas pouco, em relação ao que recebe a região metropolitana, que também enfrenta grandes dificuldades.
Nesse momento nosso programa é de ajustar a casa, sair do cheque especial.
Petrolina estava pagando juros caros e a prefeitura estava numa situação de inadimplência, como se fosse caloteira.
JC – Então a prefeitura não foi deixada com recursos em caixa?
Júlio Lóssio - Olha, eu não teria motivos de dizer que a prefeitura tinha dívidas se ela não tivesse, afinal, seria fácil eu ser desmentido.
Estamos agora iniciando a operação tapa-buracos.
Para você ter uma idéia, a construtora que ganhou a concessão da operação, tem um débito de 600 mil reais com a prefeitura, quero que o ex-prefeito desminta.
A prefeitura tem um débito com o BNDS de R$ 1 milhão por mês, quero que desmintam.
Tinha débito com a Compesa, quero que desmintam, débitos com uma série de fornecedores.
Não quero ficar aqui polemizando com outros gestores.
Tenho um respeito pelo ex-prefeito (Odacy Amorim), acho que ele fez o que estava ao seu alcance.
Mas dizer que a prefeitura veio em condições de pleno funcionamento e de ajuste fiscal, isso não é verdade.
Eu tenho esse sonho: de entregar a prefeitura para o próximo gestor com ajuste fiscal.
Temos dificuldade de gerir a máquina por conta dos débitos deixado por gestões anteriores.
JC – Quais os primeiros passos de sua administração que o senhor poderia destacar?
Júlio Lóssio – Olha, tem o Petrolina Participativa onde todas as secretarias vão discutir com a população as dificuldades de cada região.
Isso é uma ação fundamental: ouvir as pessoas.
Tem o programa Petrolina Saudável uma vez por mês, quando as secretarias levam serviços diversos para as localidades.
Destaco também a reforma de algumas escolas municipais.
Tem o programa voltado para a segurança, que é um trabalho voltado à prevenção das drogas e violências.
JC – E sua relação com as representatividades políticas da cidade?
Lóssio - Todos sabem que temos uma oposição muito dura na Câmara de Vereadores, não sei o porquê.
Ora, estamos começando uma gestão agora, estamos trabalhando por Petrolina.
Mas parece que a política funciona assim mesmo e vamos aprender a lidar com essa situação.
Muitas vezes a política faz as pessoas torcerem contra.
Eu ajudei os governos de Fernando Bezerra Coelho, Guilherme Coelho e Odacy Amorim.
Nenhum dos três pode dizer que eu não ajudei, enquanto médico.
Trouxe programas de reabilitação do cego, que não era função minha, trouxe programa do óculos, a preço de custo.
Fico triste quando vejo algum político puxar a cidade para baixo.
Gostaria que eles viessem aqui oferecer uma ajuda.
Eu sou prefeito desta cidade porque a população quis, entendeu que naquele momento eu era o melhor nome, tanto é que tive uma votação extraordinária.
As lideranças políticas têm que entender que acabou a eleição, o prefeito e os vereadores foram escolhidos. É hora de somar forças para colocar Petrolina para frente.
Daqui a quatro anos tem eleição, quem quiser ser prefeito vai poder se candidatar, ter essa honra.
Meu desejo – o que não tem acontecido - é que todos levassem Petrolina à frente, e não críticas pontuais de quem que muitas vezes desconhece a verdade dos fatos.