No Estadão SÃO PAULO - Os especialistas em Direito que participaram de debate no Grupo Estado nesta quinta-feira, 23, lamentaram o bate-boca na última quarta entre o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, e o ministro da Corte Joaquim Barbosa.

Barbosa chegou a dizer que Mendes destrói a “credibilidade do Judiciário”.

O diretor da Divisão de Combate ao Crime Organizado da Polícia Federal, Roberto Troncon, admitiu que a atuação de Mendes como presidente do STF está mais em evidência que a de seus antecessores, mas discordou da declaração de Barbosa. “Realmente, como cidadão, o que observo é que o ministro Gilmar (Mendes) tem postura diferenciada dos antecessores: verbaliza mais, falar, tratar de assuntos relativamente polêmicos e acaba catalisando toda uma discussão que realmente o notabiliza como uma atuação diferente dos que o antecederam, especialmente da ministra Ellen Gracie.

Agora, dizer daí que está destruindo a imagem é um exagero.

Para Fernando Mattos, presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe), que também esteve no evento, há um desgaste no Judiciário com essas polêmicas. “Lamento o episódio pelo excesso que aconteceu.

Agora STF tem tido julgamentos importantes, apelo social muito forte, como nas decisões sobre nepotismo, células-tronco. É importante fazer distinção do presidente do STF e do Supremo em si.

O que me espanta muito nesses episódios envolvendo Mendes são os comentários e as notícias ácidas, o que gera um desgaste”.

O subprocurador-geral da República, Wagner Gonçalves, minimizou as acusações de Barbosa, mas diz que o presidente do STF “não pode tudo” e que imagem do Judiciário fica vulnerável com as declaração de Mendes.“É todo um mecanismo que vai vulnerando, fraquejando instituições que estão tentando acertar.

Porque eu parto do suposto de que o Supremo está querendo acertar, desde os juízes de primeira instância, o Ministério Público e a Polícia Federal, que melhorou tanto seus quadros é aí que se começou a pôr o dedo na ferida- e pôr o dedo na ferida tem uma repercussão bem maior”.

Ontem, no bate-boca, Barbosa pediu “respeito” de Mendes, afirmando que o presidente do STF não estava falando “com os seus capangas do Mato Grosso”.

Segundo Gonçalves, quando Barbosa usou a expressão “capanga” quis dizer que Mendes não se dirigia a “qualquer um”. “Acho que foi uma força de expressão de Barbosa.” Segundo o advogado Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, a discussão é bilateral. “Ele (ministro Joaquim Barbosa) falou em momento de ímpeto, é impossível que ele ache isso, daria uma importância superlativa para o ministro Mendes”.