Por Renato Lima no Café Colombo Susan Boyle é uma desengonçada dona de casa escocesa com 47 anos, que não saía do seu vilarejo e confessou nunca ter beijado um homem.

Sua vida teve uma reviravolta ao participar, em 11 de abril deste ano, de um programa de TV chamado “Britain’s got talent” e cantado maravilhosamente uma música de “Os miseráveis” (provavelmente você, leitor, faz parte dos milhões de pessoas que viram o vídeo no YouTube).

Lula também teve seu dia de Susan Boyle.

Foi quando Obama, líder carismático do momento e presidente do “império” americano, chamou Lula de “o cara” durante a reunião do G-20.

Um gracejo, mas que deixou Lula deslumbrado.

Ele estava lá como um dos líderes dos países em desenvolvimento, aqueles que ainda são cheios de miseráveis (de verdade).

O resto do mundo acha graça naquela mística de operário (inclusive com marcas), líder sindical, fundador de um partido de massas, monoglota e presidente da maior nação da América do Sul.

De longe, a vida de Lula se passou mais em comitês de partido e às custas do imposto sindical do que no chão da fábrica.

O partido por ele fundado é protagonista e continuador das piores práticas da política brasileira.

E sua fixação na língua de Camões (ou alguma coisa derivada dela) é mais por falta de vontade de aprender um inglês básico que seja do que falta de condições.

Isso são detalhes para consumo interno.

Externamente, Lula encara uma imagem idealizada do Brasil.

E num momento em que a economia mundial se entrelaça e países em desenvolvimento ganham maior protagonismo mundial, como mostra a já célebre criação da sigla BRICS.

Nosso Lula Boyle é visto com essa compaixão e vontade que dê certo pelo resto do mundo.

Ruth Richardson, ex-ministra das Finanças da Nova Zelândia e uma das palestrantes do Fórum da Liberdade, ocorrido no início do mês em Porto Alegre, conclamou o presidente Lula a aproveitar seus minutos de fama. “Não é todo o momento em que os holofotes estão sobre você.

Aproveite!”, disse a ex-ministra, pedindo que ele destravasse, em nome dos países em desenvolvimento, a Rodada de Doha.

Eu iria além.

Lula é o cara, tem popularidade interna ainda beirando os 70% e uma sólida maioria no Congresso.

Tudo isso para quê?

As únicas notícias do Congresso são de corrupção miúda e não pauta de votação.

O país precisa urgentemente de reformas como a tributária e leis que acelerem a tramitação de negócios e a própria atuação do Estado (como a mudança na 8.666/93, a lei de licitações), mas simplesmente não andam.

O PAC não sai do papel por essas razões, como entraves em licitações e conflito de competências na área ambiental e com o Tribunal de Contas.

E o que está sendo feito para resolver essas questões de fundo, que não desaparecem apenas com discursos?

Em suma, se não era para conseguir alguns avanços para o País, para que ajudar a trazer José Sarney para a presidência do Senado e o PMDB para o governo?

Susan Boyle, desempregada e desconhecida, virou notícia em jornais por todo o mundo e negocia grandes contratos para gravar discos.

E Lula?

Nesses sete anos, o Brasil se tornou mais competitivo, ou seja, ganhou capacidade real de gerar mais empregos e não apenas quando a economia vai bem porque o resto do mundo crescia como nunca?

Ser “o cara” para o resto do mundo vai conseguir aumentar o acesso a nossos produtos?

Que Lula veja o exemplo de Susan Boyle e faça alguma agenda produtiva neste final de mandato, ou então o resto do governo vai ser apagar fogueira em tempos de crise.

Primeiro a indústria automobilística, depois as prefeituras, seguindo pelos Estados, fabricantes de geladeiras etc.

Espero que os brasileiros não tenham que chorar uma grande oportunidade perdida de reforma ouvindo um CD com músicas de Susan Boyle, que esta sim está sabendo não desperdiçar uma chance.