Por Gustavo Escobar O título deste artigo não pretende ser uma profecia. É apenas fruto da constatação de nossa rotina, referente à reclusão de menores infratores. É sabido e ressabido que o sistema de “prisão” destes menores, infelizmente, não funciona há muito tempo em Pernambuco.

Mais uma vez, atônitos, acompanhamos as notícias sobre outra morte brutal, praticada por um menor.

Desta vez, a vítima foi o padre espanhol Ramiro Ludeña, de 64 anos.

Morreu com um tiro de espingarda calibre 12!

O assassino, assim como em outros tantos casos, estava armado, assaltando em via pública e não perdoou a vítima.

Não respeitou a idade ou o valor da vida alheia.

Tem 15 anos de idade e estupidamente vitimou o padre com uma arma “emprestada”.

Não sabe ele que a morte do padre simboliza também o esmaecimento da esperança na sua própria recuperação, a chamada “ressocialização”, vez que esse era o mister de vida do religioso: cuidar e recuperar menores em situação de risco, o que fez até o fim trágico de sua vida, paradoxalmente, pelas mãos de um menor.

No mesmo dia deste infeliz evento, a imprensa noticiou a morte de “Kena”, assassino confesso do meu tio, Antônio Carlos de Escobar.

As duas mortes possuem muitas características em comum, sejam em relação aos assassinos – ambos menores, à forma do crime – roubo em via pública, ou ainda em relação às vítimas – pessoas humanistas e que viviam para auxiliar o próximo.

Mas as coincidências, infelizmente, não param por aí.

O menor que matou o padre foi logo apreendido e recluso na nossa “estrutura prisional” para menores, ou seja, Funase, Fundac, etc.

Entretanto, o que quero dizer é que este não é o fim.

Ainda ouviremos falar deste jovem.

Sob a tutela do Estado ele ficará recluso, possivelmente continuando a usar drogas, com a complacência estatal.

Além disso, se aperfeiçoará no crime e, por rotineiros maus-tratos, aumentará seu vazio existencial.

Sua revolta e seu ódio serão aguçados.

Em síntese, perderá eventual resquício de humanidade e virará um “animal” feroz e indomável.

Depois desse “estágio” patrocinado pelo Estado, em uma próxima rebelião, escalada ou buraco no muro, assim como o assassino do meu tio fez várias vezes, inclusive quando o matou, fugirá e voltará ao mundo do crime.

Poderá matar novamente, mas também, assim como o “Kena”, encontrará o ápice de sua “carreira” sendo morto numa briga de galeras, antes dos 25 anos de idade.

E outros iguais virão para substituí-lo.

Agora, a nós, “cidadãos pensantes”, inertes, acomodados e omissos da sociedade, resta refletir sobre o “porquê” disso?

Se eu que não sou especialista, consigo, com base na simples observação das rotineiras notícias de jornais, prever o que acima expus, será que as autoridades não sabem?

A resposta é complexa, mas – especificamente sobre as fugas de menores infratores – tenho certeza que a questão passa pela impunidade.

E não é só a impunidade dos próprios infratores, o que é básico, mas sim pela impunidade dos gestores das unidades responsáveis por estes menores.

Se um menor perigoso como estes foge, alguém tem culpa e deve ser punido exemplarmente, para que isso não volte a ocorrer.

Pergunto eu, vocês já viram isto acontecer?

Pelos crimes cometidos por estes jovens “fugados”, o Estado é responsável e deve ser acionado e condenado pela sua reiterada omissão e condescendência.

Mas quem é o Estado?

Nós?!

Como os “quadros” que gerem estas unidades são políticos, estão lá, não por um longo histórico de trabalhos na área e/ou por merecimento técnico, mas sim, por serem considerados de “confiança”.

Por isso, fica difícil e constrangedor, para o Governo, punir e “demitir” os apadrinhados, que também tem suas pretensões políticas.

Desta maneira, busca-se um bode-expiatório (os guardas que não foram para as guaritas) e tudo continua como está.

Por mais que tentemos entender, não conseguimos.

Entra e sai governo e a lógica (ou falta dela) não se inverte.

Enquanto isso, vidas são ceifadas.

Este é o preço que estamos pagando pela maneira ineficaz com que este assunto é conduzido.

Precisamos de alguém que tenha coragem de inovar e romper com essa estrutura espúria.

Enquanto isto não acontecer, ainda que torcendo pelo contrário, posso afirmar: o assassino do padre vai fugir!

Gustavo Escobar é advogado e sobrinho de Antonio Carlos Escobar, também assassinado.