Por Fernando Castilho, na coluna JC Negócio de 26.10.2007 Talvez uma das marcas mais fortes da personalidade do empresário João Pereira dos Santos que hoje faz 100 anos seja o pioneirismo.
Quando, em 1951, após uma carreira de sucesso como produtor de açúcar, montou sua primeira fábrica de cimento, o mercado local nem existia.
Tanto que foi vender o cimento Nassau no Rio de Janeiro e São Paulo.
Quando, em 1960, se bandeou para o Espírito Santo comprando outra fábrica, o foco era ocupar o mercado do Sudeste, época em que o Brasil precisava de cimento.
Hoje, essa marca é facilmente identificável quando se observa que Santos literalmente marcou, no mapa do Brasil, os lugares onde uma nova fábrica de cimento faria a diferença.
Das unidades do Maranhão, Ceará, Rio Grande do Norte, Sergipe, Piauí, Amazonas e Pará, até as da Bahia, São Paulo e Mato Grosso do Sul (que entrarão em operação nos próximos anos), está a percepção do empresário de que o consumo de cimento iria crescer por ali.
Só que ele fez isso 10 anos antes dos mercados se tornarem reais.
Talvez porque Santos tenha uma perspectiva de tempo incomum às pessoas.
Ele fala de seus projetos com o sentimento de viver décadas à frente.
Senão como imaginar um projeto de uma fábrica no Pará no meio da floresta amazônica, mas que estará a 80 quilômetros das futuras megausinas do Rio Madeira?
Ou como justificar uma nova planta em São Paulo (o maior mercado do País) que ficará pronta exatamente no momento em que o Brasil está com capacidade de produção próxima de 100%?
Não é apenas empreendedorismo. É capacidade de “sentir o rumo do vento” quando ele ainda nem sopra.
Histórias de além do tempo Um dos empresários mais discretos do Brasil, João Santos gerou uma coletânea de histórias sobre seu conceito de tempo.
Uma das mais famosas revela que, na década de 80, ao assistir a apresentação de um jovem engenheiro durante inauguração de uma nova fábrica que finalizou a conversa prevendo uso da jazida de calcáreo para 35 anos, seu João teria advertido o funcionário: Certo meu filho, mas e depois desse tempo eu vou fazer o que com essa fábrica?
Voltaremos já Em 1996, o Grupo João Santos desfez-se de sua unidade em São Paulo numa operação com o Bradesco.
Seu Santos teria convocado os diretores para uma advertência: Bom senhores, agora precisamos nos organizar para voltar a São Paulo daqui a uns 15 anos.
Afinal, temos jazida pronta para isso.
Fora da Ilha Na década de 70, Santos percebeu que a mina da fábrica da Ilha de Itapessoca não operaria muito tempo se sua produção continuasse a crescer.
Comprou nova jazida já no continente.
Quando lhe perguntaram a razão, ele teria esclarecido: Eu não posso ficar com uma fábrica que funcione apenas por 50 anos.