Editorial do Jornal do Commercio desta quarta Uma série de matérias publicadas neste Jornal do Commercio mostrou uma radiografia das dificuldades que existem pela frente para tornar realidade a meta do governo federal de construir um milhão de habitações.
No Grande Recife, por exemplo, o plano vai se defrontar com a falta de terrenos, com a necessidade de infraestrutura, com uma série de obstáculos que terão de ser superados antes de executadas as obras do ambicioso Minha casa, Minha vida.
Todos torcemos para que o governo tenha êxito nos seus propósitos – que coincidem com o desejo e os sonhos de milhões de brasileiros – mas não há como esconder que a tarefa é mais difícil do que a propaganda oficial dá a entender.
A propaganda é visualmente bem posta, no mérito é indiscutível, mas no conjunto gera uma expectativa que tem sido o carma da Nação: ser envolvida em esperanças sempre jogadas para futuro incerto.
Como produto de marketing, porém, é tudo como se de fato estivesse acontecendo ou tivesse sido realizado.
Assim na saúde, na educação, na segurança e, agora, na habitação.
Entretanto, não nos cabe antecipar êxitos ou fracassos mas ocupar o papel esperado dos meios de comunicação, de acompanhar, cobrar, questionar ou, até, aplaudir.
O que sinceramente desejamos neste caso, sem deixar de refletir sobre o problema com toda complexidade que ele representa.
Com efeito, quando anuncia a construção de um milhão de habitações não significa somente atender algo em torno de 10% do monumental déficit de moradias, mas complementar a obra com praças, ruas pavimentadas, saneamento, drenagem das águas de chuva, postos de saúde, escolas, enfim, todos os equipamentos sociais e urbanos indispensáveis a um mínimo razoável de qualidade de vida.
Significa dizer, a construção de cidades em escala menor em todo Brasil, em particular no Norte e Nordeste, onde estão os Estados lamentavelmente detentores dos piores índices de desenvolvimento humano e com carências em todas as áreas, a começar por um lugar para morar.
Essa relação de carência e a capacidade de atendimento, mesmo com um pequeno percentual, faz com que o programa do governo federal seja extremamente arrojado.
Tanto, que leva à desconfiança de que se trate – como vem sendo questionado pela oposição no Congresso – de efeitos especiais em ano pré-eleitoral.
Por outro lado, não tem sentido preconceber as intenções dos governantes, antepondo-lhes dúvidas ou negando-lhes a boa-fé por antecipação.
Esse é um papel costumeiramente praticado pelas oposições, inclusive pelo Partido dos Trabalhadores quando estava do outro lado da vitrine.
O fato é que o programa está posto, tem objetivos e se ajusta inteiramente à realidade brasileira, seja pelo atendimento de parte do déficit, seja pela capacidade da construção civil de ocupar mão de obra, uma relação exaustivamente analisada e para a qual não cabe nenhuma dúvida.
O que há – e isso foi posto com muita competência na série de matérias do JC – é que não basta construir pequenas moradias para realizar o sonho de um milhão de famílias em todo o Brasil ou 44 mil em Pernambuco, conforme lembra o gerente regional da Secretaria do Patrimônio da União em Pernambuco, Paulo Ferrari: “Não ter habitação é um problema sério que você consegue equacionar com a construção de novas casas.
Porém, há muitos locais em que você não vai resolver os problemas só com isso e, sim, fornecendo a infraestrutura básica.
Há falhas como falta de iluminação pública, equipamentos de saúde e rede de serviços.
A gente entende como sendo uma coisa tão grave quanto a falta de casa”.
A essa visão de conjunto se deve acrescentar um dado – o desemprego – que tem dificultado em muitos casos o atendimento desse direito constitucional.
Sem renda não é possível manter o imóvel recebido.
A deterioração da casa, o repasse para fazer renda, o corte dos serviços básicos como água e luz por falta de pagamento são condições que explicam o mote da série do JC sob o título geral de 4 paredes não fazem um lar.