Por Edilson Silva Chegamos aos primeiros cem dias da gestão de João da Costa à frente da prefeitura do Recife.
A pergunta é inevitável: qual a marca que ficou deste simbólico período?
Em minha opinião, o Parque Dona Lindu é o melhor retrato.
Convido os leitores a darem uma passada lá e constatarem o que digo.
Eu mesmo estive no parque no sábado, 11/04.
Não se trata mais apenas de um parque polêmico, construído a um custo milionário numa cidade de população miserável, que por isso mesmo dividiu a sociedade; um parque que foi inaugurado com toda pompa pelo presidente da República, sem estar concluído.
Não.
Trata-se agora de um Taj Mahal, como o batizou seu idealizador, em forma de entulho em plena beira mar de Boa Viagem.
A obra dá sinais de começar a entrar em ruínas.
Madeiras apodrecendo espalhadas pelo chão, ferrugem corroendo as ferragens expostas, mato alto tomando conta do espaço.
As tabelas de basquete da quadra de esportes tiveram seus aros arrancados.
Os banheiros parecem já servir a todo tipo de vandalismo, com fezes pelo chão e pelas paredes logo na sua entrada.
A obra está paralisada praticamente desde que foi “inaugurada”.
Um único guarda municipal mantinha-se a frente do parque durante minha visita, obviamente incapaz de cuidar de todo aquele patrimônio, mas pousando ingênuo para os que passam pela beira mar, como que dando a impressão de espaço cuidado.
Do calçadão ou da avenida, a grama verde da fachada, estrategicamente cuidada, e a bela escultura dos retirantes dão a impressão errada sobre o que se encontra de fato ali.
Mas, obviamente, a administração João da Costa nestes cem dias não se resume ao Parque Dona Lindu.
Os servidores públicos puderam experimentar logo de saída o amargo da retirada do benefício do recebimento do 13º quando do gozo das férias e declarações infelizes do novo prefeito de que os servidores estariam acostumados com regalias.
Os ambulantes de Boa Viagem foram vítimas da tentativa de retirar-lhes de forma irresponsável seu ganha-pão, em mais um rompante elitista da gestão petista.
Os postos de saúde da prefeitura estão entrando em colapso.
Onde já faltavam médicos e medicamentos, agora falta também segurança diante de uma população que dá sinais de impaciência com o caos.
No posto de saúde do Barro, por exemplo, crianças dividem espaço com pacientes com hanseníase, denuncia uma moradora.
Na mesma região, uma única bomba d’água reveza-se entre três postos de saúde, pois a prefeitura alega não ter pouco mais de R$ 100,00 para adquirir um equipamento próprio para cada unidade. É a crise, poderá gritar o primeiro governista de plantão.
Não, não é a crise.
Se o governo anterior não tivesse gasto tanto com obras secundárias, para dizer o mínimo, como a mudança do passeio da orla de Boa Viagem, o próprio Dona Lindu, o túnel do Pina que até hoje encontra-se sem serventia, e tantas outras obras e serviços, como a consultoria da FINATEC e caros carnavais, talvez hoje as comunidades do Barro, de Coqueiral, de Afogados, do Chié, e tantas outras, tivessem ao menos bomba d’água para levar água às torneiras de seus postos de saúde e instalações perto de adequadas para as comunidades.
Talvez tivessem mais profissionais de saúde e de segurança para garantir um atendimento minimamente digno para os que se utilizam dos serviços.
Como João é João, eis a grande obra apresentando seus efeitos de médio prazo.
Portanto, nada de colocar a conta somente nas costas, sem trocadilho, do segundo João.
A crise só antecipou os efeitos, que se fazem sentir com força nestes primeiros cem dias da gestão do novo prefeito de uma velha administração.
Em tempo: sugiro ao prefeito que se não puder concluir a obra do Dona Lindu, que ao menos coloque mais um guarda municipal circulando no espaço; que coloque uma equipe para cuidar da parte que já pode ser utilizada pela população, tanto da jardinagem como da pista de caminhada, quadra, brinquedos e banheiros.
Sugiro também que melhore o aspecto da obra, para que ela pareça que foi organizadamente paralisada, e não abandonada, afinal de contas, é o dinheiro público que está ali, além de ser esteticamente menos condenável.
Por fim, sugiro que tenha a coragem de só colocar mais um único centavo naquela obra após dar condições para que os postos de saúde da prefeitura funcionem com um mínimo de dignidade.
PS: Edilson é presidente do PSOL-PE e escreve para o Blog de Jamildo sempre às segundas.