Por Paulo André Leitão, especial para o Blog de Jamildo Desde criança, levado pelas mãos seguras de meu pai, parentes e pais de amigos, assisto nos estádios pernambucanos a jogos do meu time.

Adulto, estendi a meus dois filhos mais velhos a experiência de compartilhar com milhares de torcedores, alegrias e tristezas a cada partida.

Aprendi com a família, nas peladas em Olinda e no Colégio de Aplicação da UFPE que a disputa esportiva educa.

Longos anos no exercício da profissão de jornalista enriqueceram-me a visão de observador e torcedor do futebol – torcedor, aqui, no mais amplo sentido – como fonte de riqueza econômica e ascensão social.

Por formação e crença, sinto-me condenado ao otimismo.

Nos últimos anos, os fatos que presenciei e aqueles de que tomei conhecimento, por relatos pessoais e profissionais (de jornalistas, radialistas, policiais e outros servidores públicos que trabalham direta ou indiretamente em jogos de futebol) não abalaram meu otimismo, mas, repetidas vezes, me provocaram indignação e revolta.

Por isso, resolvi escrever.

A violência protagonizada por policiais militares e integrantes das torcidas Jovem e Inferno Coral antes, durante e depois de Sport 2 x 1 Santa Cruz, domingo passado, é um exemplo de desperdício do dinheiro público.

Pagos para proteger cidadãos e cidadãs, policiais militares pernambucanos são sinônimos de ineficiência e, portanto, insegurança dentro e fora dos estádios.

Têm sido incapazes de prevenir, reprimir e encaminhar transgressores da lei às autoridades responsáveis por sua punição.

Têm abusado do direito ao uso da força, desprezado direitos de profissionais da imprensa, desrespeitado e ameaçado torcedores.

E mais: agridem a inteligência das pessoas.

O mais obtuso dos policiais militares saberia identificar um dos motivos das arruaças de domingo, dentro da Ilha do Retiro: a má distribuição de espaço para as torcidas (quando digo torcidas, refiro-me a torcedores, não a delinqüentes).

Em três quartos da arquibancada central, torcedores rubro-negros se apertavam; na área restante, havia apenas policiais.

Já no ínfimo espaço destinado ao Santa Cruz, faltava lugar.

Vi muita gente espremida desde a entrada.

No decorrer do jogo, outra decisão obtusa: policiais militares conduziram por entre a torcida tricolor uma pessoa detida em meio à torcida rubro-negra.

E, para encerrar, quem estava no tal espaço destinado ao Santa Cruz foi obrigado a ficar no estádio até que saíssem todos os torcedores do Sport, outros torcedores e os seguidores da Jovem.

Não teria sido mais seguro para cidadãos e cidadãs que ocorresse o inverso?

Os recursos públicos gerados pelos impostos que pagamos têm sido desperdiçados pela falta de inteligência de policiais militares, pela conivência de cartolas, pela falta de controle social dos poderes públicos.

Estádios de futebol destinam-se a torcedores, não a delinqüentes.

Seria demasiadamente otimista esperar rigor do Ministério Público, da Assembléia Legislativa, da Justiça?

Seria muito reivindicar que os clubes sejam proibidos de presentear baderneiros com ingressos para os jogos?

E sonhar com a força de todos nós, torcedores desorganizados, seria demais?

Esperar mudanças por parte da cartolagem pernambucana, seja dos clubes, associações ou federações, ultrapassaria as mais flexíveis fronteiras do otimismo, até para mim.

Ao referir-se ao novo presidente do Palmeiras, Luiz Gonzaga Belluzzo, na revista Brasileiros, edição de março/2009, o governador José Serra acerta o alvo: “Ele é um fato novo, os cartolas são toscos”. (*) Jornalista, servidor público e torcedor do Sport.