Na Folha de São Paulo O procurador da República Rodrigo de Grandis, que atua na Operação Satiagraha, deflagrada no ano passado, afirma que, a cada nova investigação, é perceptível o aumento do número de telefones ou HDs (memória de computador) criptografados, o que torna praticamente impossível o trabalho de rastreamento das conversas mantidas entre investigados.
A criptografia é um sistema que bloqueia escutas telefônicas e telemáticas (e-mail, por exemplo).
Para os equipamentos mais sofisticados, ainda não foi descoberta uma “chave mestra” que permita acessar o programa, tornando a comunicação violável. “O uso é muito típico em crimes de colarinho-branco: diante da possibilidade de serem descobertos, os investigados, que possuem elevado poder econômico, se valem de todos os expedientes para garantir impunidade”, afirma.
O procurador não vê ilegalidade na venda de criptografia. “O que me parece equivocado é ela constituir um obstáculo absolutamente intransponível à investigação”, diz.
A Folha entrevistou quatro diretores das maiores empresas do mercado antigrampo.
Todos foram unânimes ao dizer que, após cada operação da Polícia Federal envolvendo escutas, a demanda aumenta. “Depois da Camargo Corrêa [alvo de investigação da Polícia Federal na Operação Castelo de Areia], a procura aumentou mais do que 100%.
Vou falar em números fictícios.
Se antes eu vendia 30 equipamentos por mês, depois da operação já vendi 70, 80.
São empresários que querem a garantia de que a comunicação deles, seja por voz ou por dados, seja inviolável”, diz Cesar Bremer Pinheiro, que fabrica e comercializa software antigrampo. “Você pode colocar todos os supercomputadores do mundo para tentar quebrar uma criptografia e não irá conseguir.
Nem eu, que fabrico, tenho a senha de acesso, isso não existe”, afirma Pinheiro.
Esse tipo de tecnologia, que não prevê uma “porta de saída” para que autoridades possam acompanhar a comunicação entre investigados, é proibida em alguns países.
No Brasil não há nenhuma regulamentação sobre ela (leia texto ao lado).
Os executivos investigados na Castelo de Areia faziam “uso incessante de telefones criptografados”, o que impediu a polícia de acompanhar os diálogos.
Os principais indícios de suposta evasão de divisas e lavagem de dinheiro surgiram porque os interlocutores dos diretores não dispunham da mesma tecnologia. “Ao que tudo indica, grande parte dos diálogos importantes para a investigação, estabelecidos entre Dárcio [Brunato] e Fernando [Dias Gomes, ambos diretores da Camargo Corrêa], estaria sendo feita com o uso dessa nova tecnologia [criptografia]”, diz um dos relatórios da PF.
No mesmo documento, diálogos interceptados mostraram que os investigados usavam “softwares militares”.
Agentes da PF disseram que o uso da criptografia “demonstra a preocupação dos investigados em esconder o verdadeiro teor de suas tratativas”.
A Operação Castelo de Areia levantou ainda, segundo os empresários antigrampo, uma segunda preocupação -sobre como proteger dados armazenados em pen drives e CDs. “Depois que a PF apreendeu, na sede da Camargo Corrêa, um pen drive com uma suposta lista de políticos, muitos me procuraram com a intenção de proteger seus equipamentos eletrônicos”, disse Pinheiro.
Para Breno Niero, diretor de desenvolvimento de outra empresa antigrampo, “as empresas brasileiras estão começando a entender que é preciso proteger os dados, onde quer que eles estejam, em CDs, pen drives, notebooks, etc”.