ATÉ QUANDO ESPERAR?
Jayme Asfora* Quando poderemos colocar um ponto final numa das passagens mais sombrias da história brasileira? 45 anos se passaram desde o golpe militar que amordaçou o País. 20 anos se passaram desde a promulgação da Constituição cidadã, que trouxe a liberdade de volta a este mesmo Brasil.
Mas o ponto final esperado por todos os cidadãos e, principalmente, pelas famílias das vítimas da ditadura militar ainda não foi colocado nessa história.
A cada 31 de março, reacende-se a esperança de podermos contá-la com começo, meio e fim.
Abrir os arquivos da ditadura é prestar contas à sociedade brasileira. É ser transparente com a nossa história.
Não estamos procurando revanchismo. É um direito de todos, das antigas e das novas gerações, saber o que se passou no País em um tempo não tão distante.
Quantos pais já deixaram essa vida, sem ao menos saber o que aconteceu com seus filhos?
E quantos ainda não puderam contar, aos seus filhos, o que de fato aconteceu com seus pais?
Quantos corpos continuam insepultos?
Quantos paradeiros são desconhecidos até hoje?
Quantas dessas perguntas continuarão sem resposta?
O Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB),em notável atitude cívica, ajuizou a Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 3987 contra as leis federais que restringem o acesso a documentos públicos.
Afinal, como bem diz nosso presidente do CFOAB, Cezar Britto: “Anistia não é amnésia e nem muito menos esquecimento.
Não é simplesmente dizer que o que passou é passado e que não mais devemos dele tratar”.
Dizia o grande brasileiro Chico Buarque em uma música lançada em 1983: “…Num tempo, página infeliz da nossa história, passagem desbotada da memória das nossas novas gerações….”.
Naquele tempo, talvez ainda fosse difícil acreditar que os tais arquivos um dia seriam abertos e supor-se que a memória acabaria por desbotar aos poucos até ser apagada totalmente das futuras gerações.
Somente no período de vigência do Ato Institucional nº 5 - o famigerado AI-5 -, sabemos que foram censurados mais de 500 filmes, 400 peças, 200 livros e milhares de músicas.
Mas não podemos saber ainda o total de opositores do regime que foram torturados e assassinados pelo fato de ousarem divergir.
Um período escuro da história brasileira; uma marca a estar sempre viva na memória do País.
Aquela foi uma época em que a liberdade de expressão e de imprensa foram totalmente tolhidas.
Hoje, constitucionalmente, vivemos uma democracia.
Plena.
Nesses 45 anos, o acesso à informação vem sendo ampliado a cada dia, a cada nova tecnologia que surge. É paradoxal vivermos em um País onde se busca democratizar a informação e, ao mesmo tempo, ainda haver páginas e mais páginas da história ocultas.
Com apenas um clique, podemos viajar o mundo inteiro.
Mas ainda esperamos concluir essa longa viagem ao nosso passado.
PS:Jayme Asfora é presidente da OAB-PE e escreve para o blog às quintas.