Informações do MPF A 6ª Vara Federal Criminal Especializada em Lavagem de Dinheiro e Crimes Financeiros de São Paulo decretou a prisão de dez pessoas envolvidas com esquema de remessa ilegal de dinheiro da construtora Camargo Corrêa para o exterior por intermédio de doleiros que atuam no Brasil e no exterior, que criaram um sofisticado sistema, que inclui operações de câmbio e transferências bancárias com aparência de legalidade.
Batizada de Castelo de Areia pela Polícia Federal, a operação foi deflagrada hoje de manhã.
A pedido do MPF, quatro diretores da empresa e quatro doleiros tiveram a prisão preventiva decretada.
Outras duas pessoas, secretárias dos diretores, tiveram a prisão temporária (de cinco dias, renováveis por mais cinco) ordenada pela Justiça.
Buscas e apreensões também foram determinadas.
O caso começou a ser investigado após uma denúncia anônima recebida pela PF em janeiro de 2008, que relatava a associação entre diretores da construtora e doleiros para evasão de divisas (remessa ilegal de dinheiro ao exterior), câmbio ilegal e lavagem de dinheiro, com uso de documentos falsos e laranjas.
A investigação se deparou também com pelo menos uma obra superfaturada, a construção de uma refinaria em Pernambuco e doações não-declaradas (ilegais) e declaradas do grupo empresarial para partidos políticos, mas ainda é preciso apurar quem são as pessoas e ou campanhas políticas beneficiárias dos recursos.
As interceptações telefônicas autorizadas judicialmente indicam que pelo menos três partidos receberam doações.
Um dos fatos que mais chamou a atenção do MPF é a constante movimentação dos investigados para ocultar as remessas, que somam pelo menos R$ 20 milhões.
Um dos doleiros constituiu uma empresa de fachada, localizada numa estrada de terra no Rio de Janeiro.
Essa empresa emitia remessas aparentemente legais para o exterior, rotuladas como pagamento de fornecedores.
Nomes de animais - De denúncia anônima, a investigação começou a tomar corpo após a identificação de um doleiro suíço, naturalizado brasileiro, ex-funcionário de um grande banco daquele país no Brasil.
Esse doleiro falava o tempo inteiro em código com os diretores da empresa, usando nomes de animais para se referir a pessoas e moedas.
Para tentar ocultar o conteúdo de suas conversas, os empresários utilizavam sistemas difíceis de interceptar como os comunicadores por IP Voip e Skype, além de sistemas telefônicos criptografados.
Num telefonema a uma pessoa ainda não-identificada, um dos diretores agora preso revela a intenção de trocar o HD de seu computador, diante da possibilidade de “os caras” buscarem os dados apagados.
Quando não tratavam diretamente com os diretores, os doleiros conversavam sobre as remessas com as secretárias, que eram responsáveis por receber e remeter, por fax, as ordens e instruções de pagamentos via cabo no exterior (swifts) em favor da Camargo Corrêa.
Elas demonstram conhecer os códigos com nomes de animais.
Os mais usados eram coelho, camelo, girafa, canguru e gaivota.
Para o MPF, a extrema cautela e estratégia dos investigados e sua revelada intenção de se ocultar da Justiça, obstruindo qualquer ação policial, além da nítida participação de cada investigado nos crimes investigados, detalhados nas interceptações telefônicas, são motivos suficientes para a decretação das prisões temporárias e preventivas. “A participação de cada um deles nos crimes acima apontados, segundo o quanto já é apurado, é fato, praticamente, de contornos geométricos, sendo de impressionar o grau de rapidez e coordenação na efetivação das transações financeiras ilegais, inclusive as internacionais, o intento de simulação para ludibriar as autoridades quanto à sua identificação e destino final dos recursos evadidos, logrando os integrantes da organização criminosa alcançar a lavagem de seus ativos, por meio, também, de fraudes perpetradas junto ao Banco Central”, escreveu a procuradora da República Karen Louise Jeanette Kahn na manifestação em que pediu as prisões dos investigados.
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