Por Edilson Silva Em artigo assinado na revista Veja desta semana o economista e ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega busca convencer seus leitores de que o capitalismo é o melhor que as sociedades podem produzir em matéria de civilização.

Segundo o ex-ministro, “não há alternativa ao sistema capitalista.

Nenhum outro libera tanto as energias produtivas da sociedade nem o supera na geração de renda, emprego e bem-estar”.

Para não falar apenas a partir de seus supostos conhecimentos, o autor tira da cartola o indiano Amartya Sen, prêmio Nobel de Economia de 1998, para quem a atual crise “não requer um ‘novo capitalismo’, mas a reinterpretação de velhas idéias e instituições para produzir um mundo mais decente.” Óbvio que o tamanho do artigo não permitiria falar muito sobre o que seria esta tal reinterpretação de velhas idéias, mas poderia ao menos ter saído do mantra manjado de que se deve preservar a supostamente virtuosa função sistêmica do capitalismo, que seria a alocação dos escassos recursos disponíveis aos fins mais produtivos.

Se for esta a base da reinterpretação do indiano, a crise do capitalismo é realmente maior do que andam dizendo por aí.

Houve um tempo em que a Lei de Say, segundo a qual a oferta cria sua própria demanda, era amplamente aceita no mundo da “ciência econômica”.

Hoje há os que acreditam na Lei da Escassez, segundo a qual são limitados os meios disponíveis para satisfazer as necessidades das pessoas.

Esta suposta lei é o ponto de partida de economistas como Maílson da Nóbrega e seu indiano premiado com o Nobel.

Com todo respeito, ambos devem acreditar também em Papai Noel.

Mas, armado com velhas, testadas e falidas idéias, o artigo insurge-se para o centro do tatame para desenvolver sua principal missão: desqualificar o socialismo como alternativa ao capitalismo que agoniza em praça pública.

Para tanto, segue uma receita também manjada: pega uma caricatura de Marx, acrescenta Cuba e Coréia do Norte da forma mais rasa, em seguida coloca uma cobertura da Venezuela de Hugo Chaves e pronto.

Conclui que o socialismo não presta e tudo o que temos pela frente, pelo resto de nossas vidas, é o capitalismo.

Fôssemos tão rasos como Maílson da Nóbrega, pegaríamos o Haiti e a Etiópia e os relatórios da FAO (ONU) para simplificar o que vem significando o capitalismo para a humanidade, ou mesmo o processo desenfreado de favelização travestido de urbanização que o mundo vem passando nas últimas décadas, com todas as consequências conhecidas por todos.

Mas os socialistas têm melhores argumentos e têm interesse em elevar o nível do debate.

Os defensores do capitalismo nunca responderam e nem se preocuparam em responder satisfatoriamente aos problemas da fome brutal, do desemprego, das desigualdades sociais gritantes num mundo com tanta capacidade de produção de bens e serviços.

Não seria agora, em meio a uma crise estrutural, que estas respostas viriam.

No entanto, o que os capitalistas precisam como mínimo responder ao mundo é como vão resolver o problema da insuficiência de demanda para a sua superprodução de mercadorias, que é o centro do seu problema, e não da maioria da sociedade, que tem outras demandas.

Deixemos de fora, somente neste exercício, a questão da manutenção dos níveis de produção com a garantia de sustentabilidade ambiental.

Nem para esta questão tão simples, sob a ótica da tal Lei da Escassez, os capitalistas têm respostas.

E não as têm porque o funcionamento do seu sistema expulsa naturalmente os trabalhadores, potenciais consumidores, do mundo do trabalho; porque a renda necessária para equilibrar minimamente a produção e o consumo concentra-se na poupança imoral de uns poucos; porque os mecanismos anticíclicos keynesianos de “correção” da demanda via gastos estatais exigiria na atual conjuntura a desfiguração do próprio capitalismo; porque não há outras fronteiras geográficas a serem exploradas como aconteceu na década de 1990 após a queda do Muro de Berlim; porque não há no curto prazo a perspectiva de um novo setor econômico para dar impulso à economia de conjunto, como o foi a revolução na informática e nas telecomunicações nos últimos 15 anos; porque a criação de demanda fictícia através de crédito ilimitado só adia e agrava o problema, como acontece agora; porque patrocinar uma guerra mundial, como o fizeram em 1939, poderia ser o fim da nossa espécie.

Não é difícil perceber que os capitalistas chegaram e levaram consigo a sociedade mundial a um precipício.

O que lhes causa um constrangimento a mais, e certamente medo, é que lá encontraram, intacto, um senhor barbudo, apontando em outra direção, com uma placa numa das mãos, datada de 1848, com uma mensagem em alemão: eu avisei!

PS: Edilson é presidente do PSOL/PE e escreve para o Blog de Jamildo.