Por Roberta Soares, no JC desta segunda Ao dar a largada para a terceira e última etapa da Linha Sul do metrô, hoje, o presidente Lula vai incorrer no mesmo erro cometido com a inauguração parcial do Parque Dona Lindu, em Boa Viagem, no fim de dezembro.
Vai inaugurar uma obra incompleta, que não atende às necessidades da população como deveria.
Com um agravante.
A construção do Parque Dona Lindu custou R$ 29 milhões e está sendo executada há cerca de um ano, enquanto o novo ramal do metrô se arrasta há onze anos, representa um investimento de R$ 392 milhões e, mesmo assim, entrará em operação transportando apenas 10% dos passageiros previstos. É claro que é preciso dar descontos. “O que importa é que, finalmente, esse megaprojeto está sendo concluído.
Foram anos de luta, de paralisações e retomadas.
Não representa tudo, até porque a reforma das composições ainda está em andamento.
Mas será a partir dele que poderemos buscar o restante”, pondera, anonimamente, um funcionário do metrô, que acompanha a construção da Linha Sul desde que ela ainda era projeto.
A grande lacuna da Linha Sul é a inauguração do ramal sem os terminais integrados com os ônibus, fundamentais a qualquer metrô.
Um sistema metroviário não se concebe sem a alimentação feita por coletivos.
Isso acontece no mundo inteiro.
Principalmente no caso da Linha Sul do metrô, que assim como a Linha Centro, em operação há mais de 20 anos, nada mais é do que uma adaptação de uma antiga rede ferroviária, cercada de comunidades carentes.
Pelo projeto original, a Linha Sul deveria ter cinco terminais integrados com ônibus, mas a licitação feita pelo governo federal não vingou por problemas técnicos.
Recentemente, o Estado trouxe para si a responsabilidade de fazer a concorrência pública, que está sendo encaminhada, mas como em qualquer licitação, as surpresas são inevitáveis.
Vencida essa etapa, será necessário, no mínimo, de um a dois anos para os projetos serem concluídos.
Sendo prático, Lula hoje vai inaugurar cinco estações que estão prontas há pelo menos três anos – à espera de trens e de sinalização para entrarem em operação – e que fazem parte de um modal que irá funcionar com apenas três trens e um intervalo de 17 minutos.
O mais grave da inauguração não é o fato de o metrô estar incompleto, mas de contar com o presidente da República, cuja presença superdimensiona qualquer evento.
Nada demais se a Linha Sul estivesse transportando os 195 mil passageiros que deveria e, não, 20 mil, como acontecerá.