Por Giovanni Sandes, de Economia / JC A analista de sistemas Silvana Maria Cerqueira tem 48 anos.

Casada, mãe de dois filhos, Silvana tenta há duas semanas marcar uma cirurgia de vesícula para seu marido.

Com os dois filhos, o casal é usuário do plano de saúde Geap - Fundação de Seguridade Social. “Ele está para fazer essa cirurgia faz 15 dias.

Mas os hospitais que estavam credenciados não estão mais.

Não sei quem está ou não, mas sei que não atendem mais o D’Ávila, o Português, que agora só atende Geap se for emergência, e o Memorial São José”, relatou Silvana, ontem.

Ela prefere não citar o nome de seu marido.

Os dois são servidores da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que tem convênio com a Geap.

Na última terça-feira, o Sindicato dos Hospitais de Pernambuco (Sindhospe) divulgou que deu um ultimato ao plano de saúde para regularizar débitos até a próxima terça-feira.

Caso contrário, diz o Sindhospe, 15 associados suspenderão o atendimento aos 45 mil usuários pernambucanos da Geap.

Quem paga um plano de saúde e toma conhecimento de um anúncio desses logicamente se preocupa.

Além disso tudo, no meio do fogo cruzado, três sindicatos de servidores federais atendidos pela Geap reclamam que, a partir do próximo contracheque, terão que desembolsar pelo plano aumentos de até 80% (leia mais na matéria abaixo).

Segundo a diretora-executiva da Geap, Regina Parizi, a Fundação já vinha quitando parceladamente um passivo com os prestadores de serviços.

Mas ela diz que, devido a uma frustração de receitas de hospitais, clínicas e laboratórios da rede conveniada local, alguns prestadores querem que a Fundação aumente o valor das parcelas já negociadas.

Todos os lados envolvidos na história apresentam uma “fatura”, cobrando do outro uma solução.

O Sindhospe, na versão da Geap, teria atropelado as negociações e anunciado o ultimato.

O presidente do Sindicato dos Hospitais, Mardônio Quintas, no entanto, alega que seus associados cobram uma dívida de R$ 15 milhões da Geap e alguns deles já se descredenciaram do plano.

Para a Fundação, o volume do débito apontado pelo Sindhospe mistura um passivo já negociado e uma de suas parcelas a ser paga este mês.

Mas a Geap não mostra outra cifra.

Em nota, a Fundação informa que iniciou um “redimensionamento” da rede credenciada.

Quem depende do plano fica em dúvida sobre onde conseguir atendimento.

Foi o caso de duas famílias que se encontraram ontem, por acaso, na busca por UTIs para seus parentes.

Juntas, telefonaram e procuraram pessoalmente três vezes a Geap.

A dona de casa Maria José de Souza Nascimento, 62 anos, queria atendimento para seu marido, de 55 anos. “No Albert Sabin atenderam, deram remédio, mas não tem vaga na UTI.

Estamos aqui desde às 6h”, relata Maria José.

No hospital, ela conheceu Suely Pereira, 52 anos, que se apresenta como cuidadora de idosos.

Suely falou, autorizada pela família, em nome de um idoso que, desde às 8h, também precisava de UTI. “Muitos hospitais que aceitavam a Geap não aceitam mais.

Que eu sei, ficaram Alfa e Canaã.

Mas quando a gente procura UTI, a Geap diz que os hospitais não têm”, relata Suely, que cuida de um idoso de 80 anos e deu entrada no Sabin com princípio de Acidente Vascular Cerebral (AVC).

O Núcleo de Defesa do Consumidor da Defensoria Pública convocou para hoje, às 15h, em caráter de urgência, uma audiência pública sobre a questão entre a Geap e seus prestadores de serviços.