Por Elson Teles A significativa piora no balanço de riscos para a atividade econômica permitiu ao Copom acelerar o ritmo de corte na taxa Selic.

Dessa forma, avaliando o cenário macroeconômico e constatando perspectivas mais favoráveis para a inflação, o Comitê de Política Monetária (Copom) decidiu, neste momento, reduzir a taxa Selic em 1,5 ponto percentual, para 11,25% ao ano, sem viés, por unanimidade.

Entretanto, o comunicado emitido após a reunião deixou claro que o Copom não se compromete em manter este ritmo de corte nos próximos encontros.

De acordo com o comunicado, “o Comitê acompanhará a evolução da trajetória prospectiva para a inflação até a sua próxima reunião, levando em conta a magnitude e a rapidez do ajuste da taxa básica de juros já implementado e seus efeitos cumulativos, para então definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária”.

A nosso ver, os fracos resultados do PIB no quarto trimestre e da produção industrial em janeiro devem ter sido decisivos para a mudança da postura de política monetária.

Isso mostra que a permanência de condições financeiras restritivas, por período de tempo mais prolongado, deve exercer efeito contracionista significativo sobre a demanda e, ao longo do tempo, permitir uma pressão desinflacionária importante.

No âmbito da inflação, a única questão que ainda traz algum desconforto refere-se à maior rigidez apresentada pela inflação ao consumidor no início do ano (questão da persistência inflacionária), uma vez que não há evidências de repasse da depreciação cambial ocorrida, sendo que os preços por atacado, inclusive, seguem apresentando deflação na margem.

Ao mesmo tempo, o processo de ancoragem das expectativas de inflação tem evoluído favoravelmente, com a mediana das previsões para o IPCA deste ano já muito próxima ao centro da meta.

Em suma, a forte reversão nas pressões sobre o mercado de fatores, evidenciada pela forte queda do nível de utilização da capacidade instalada da indústria e alta na taxa de desemprego, aponta para uma maior abertura do hiato do produto e, portanto, dá margem para uma política monetária mais acomodatícia.

A nosso ver, diante deste cenário, o ajuste total na taxa básica de juros pode chegar a 4 pontos percentuais, levando a taxa Selic para um dígito já em meados do ano.

PS: Economista-chefe da Concórdia Corretora de Valores