Por Carlos Alberto Fernandes O Senado Federal é uma instituição secular repleta de celebridades políticas maduras e respeitáveis com uma extensa folha de serviços prestados ao país.
Aturdida com os escândalos em série e diante de desvios coletivos de conduta, a sociedade procura explicações para o que acontece num dos mais antigos e respeitáveis templos da democracia brasileira.
O Senado gastou R$ 6,2 milhões com pagamento de horas extras a 3.383 servidores durante o recesso parlamentar, quando não houve sessões.
O pagamento foi autorizado, excepcionalmente, pelo primeiro secretário Senador Efraim Moraes, três dias antes do término do seu mandato, ocasião em que o valor do teto das horas extras foi aumentado em mais de 120 por cento.
Autorizada pelo primeiro secretário, a ação foi conduzida pelo diretor geral - quatorze anos no cargo e dono de uma mansão mal explicada; diretor de pessoal - quinze anos na função (e ocupando indevidamente um apartamento funcional desde 1999, apesar de residir em casa no Lago Sul); e, 81 chefes de gabinetes de senadores, responsabilizados solidariamente, pelo Senador Efraim Moraes.
Os beneficiados fazem parte de um dos segmentos mais bem pagos do país e que teve os maiores aumentos salariais do governo; sendo esta, é a primeira vez que um escândalo dessa natureza atinge um segmento tão grande de servidores.
Não se deve esquece que, capitaneado pelos dirigentes atuais e receosos com as promessas de moralização do senador Tião Viana, um grande grupo de servidores fizeram campanha aberta pelo ex-presidente José Sarney - que prometia manter a Casa em paz. É óbvio que, nas organizações, vez ou outra, há desvios de conduta, Todavia, o que faz um contingente de servidores dessa magnitude, status, dimensão e alto nível de qualificação se comportar dessa forma, metendo despudoradamente a mão no dinheiro público, numa das mais vetustas casas da democracia?
O primeiro argumento é que nas organizações prevalece a máxima de que elas, naturalmente, são o espelho de seus chefes: e, portanto, está valendo a expressão simplista: tal chefe tal a organização.
A propósito, não foram poucos os maus exemplos que alguns ex-dirigentes da Casa deixaram como espólio para seus integrantes.
O segundo, é que a ética pública refletida pelas ações políticas está descendo ladeira e hierarquia abaixo.
Nesse sentido, não há justificativa plausível para um parlamentar receber auxilio moradia tendo residência fixa em Brasília; ex-parlamentar ou servidor graduado, ocupar indevidamente um imóvel funcional; ou mesmo, um dirigente da Mesa, autorizar “na perna”, aumentos indevidos, que apesar de ditos legais por conveniência, são ilegítimos e atingem a moralidade do ato público.
O terceiro e último argumento é que o setor público em geral, ainda continua vivendo a farra dos gastos públicos e isso tem contaminado todo o Poder Executivo, bem como toda a extensão do Legislativo. É nesse aspecto que o governo se ressente da falta de ministros - na área econômica -,com concentração de poder, lucidez e determinação, a exemplo, de Pedro Malan e Antonio Palocci que jamais foram reféns de sindicatos e de sindicalistas de plantão.
Afinal, diante da imagem vilipendiada do Senado, quem são novos vendilhões do templo a quem o senador Jarbas Vasconcelos credita serem liderados pelo Sumo Sacerdote José Sarney; e, quem irá assumir o papel de um novo Messias e promover o açoite a esses mercadores da democracia e traficantes das coisas sagradas da cidadania?.
Carlos Alberto Fernandes é economista e professora da UFRPE.