Veja comunicado que o senador Jarbas Vasconcelos fez hoje à tarde na tribuna do Senado Federal.

Senhor Presidente, Senhoras Senadoras, Senhores Senadores, Desde que foi publicada a minha entrevista à Veja, tomei a decisão de tornar públicos e transparentes quaisquer desdobramentos dela decorrentes.

De jogar luz onde o jogo é de sombras e escuridão.

Foi assim que fiz ao falar da tribuna sobre o meu afastamento da Comissão de Constituição e Justiça desta Casa, determinado pela liderança do PMDB.

Esse mesmo procedimento adotei na quinta-feira da semana passada, dia 5 do corrente mês, quando recebi a informação de que estava sendo vítima de uma “arapongagem” em Pernambuco.

Diversos outros órgãos de Imprensa informaram que adversários iriam divulgar meus, supostos, “podres”.

Jornalistas aqui de Brasília foram “inundados” de insinuações e denúncias baixas e agressivas contra a minha pessoa.

Uma prática que expressa o tamanho da mediocridade a que estamos submetidos.

O relato feito por Veja nesta semana corresponde aos fatos: um especialista pernambucano em “inteligência” procurou-me para informar que tinha sido contatado para uma investigação.

Essa investigação teria como responsável uma empresa internacional, famosa por seu envolvimento em litígios corporativos.

No entanto, quando soube que eu era o alvo do “contrato”, ele preferiu não aceitar a missão.

Diante do acontecido, resolvi dar conhecimento dos fatos ao repórter Otávio Cabral, que acompanha o caso desde o início.

Concedi a entrevista com um único objetivo: proteger-me do jogo rasteiro de meus obscuros adversários.

Da mesma forma que procedi com relação ao jornalista, não vou revelar neste momento os nomes das pessoas que me alertaram sobre a investigação, para preservar sua segurança e a privacidade.

Só o farei quando for absolutamente necessário.

Não tenho razões para acreditar que o investigador que me procurou tenha inventado toda a história.

Ainda na sexta-feira, o meu gabinete aqui em Brasília foi procurado por Eduardo Gomide, diretor da Kroll no Brasil, que negou qualquer envolvimento no caso e disse que não investiga políticos.

Infelizmente, o cidadão brasileiro hoje não tem a mínima segurança de que não está tendo a sua vida bisbilhotada de forma ilegal.

O Brasil se transformou no paraíso da arapongagem criminosa e sem controle, basta ler a reportagem de capa da última edição da Veja, que revela detalhes da “arapongagem” realizada ilegalmente no esteio da Operação Satiagraha.

Diante desse quadro, minha intenção era a de fazer esta comunicação à Casa para exigir da Presidência as providências necessárias, junto à Polícia Federal, para que tudo fosse devidamente esclarecido.

Foi com surpresa que, ao chegar a Brasília, constatei a agilidade do Presidente Sarney em provocar não só a Polícia Federal (o que fez pessoalmente em seu Gabinete) como também o Ministério Público e a Corregedoria do Senado, que, com rapidez digna de registro, instaurou sindicância e comunicou o fato ao meu Gabinete antes mesmo da leitura do ofício em Plenário.

Tudo isso mereceria meu sincero elogio, não fosse por dois reparos que merecem ser feitos: Senhor Presidente, Senador José Sarney, o seu ofício dirigido ao Dr.

Antonio Fernando de Souza, Procurador-Geral da República e ao Ministro da Justiça, Tarso Genro, não retrata a verdade dos fatos.

Vossa Excelência procura, não sei com que objetivo, distorcer a matéria da *Veja, *e por consequência, minhas declarações ao afirmar que denunciei uma investigação contratada por integrantes do PMDB.

Não fiz em momento algum esta declaração, não citei o Partido, sua direção ou qualquer de seus integrantes, apesar de haver sido ameaçado publicamente por vários deles.

Só acusaria alguém se possuísse provas e custo a acreditar que tal iniciativa pudesse ter origem no Senado Federal.

O segundo reparo que tenho a fazer às providências adotadas por Sua Excelência diz respeito à iniciativa e agilidade adotadas neste caso, em detrimento de tantos outros que ocorreram nos últimos dias.

Espero que não só este Senador, mas todos os demais tenham o privilégio de contar em seu favor com o interesse da Presidência do Senado em usar de todos os instrumentos a seu alcance para restabelecer a verdade dos fatos quando integrantes desta Casa e seus familiares mais próximos forem vítimas de escuta clandestina ou vazamento de investigações da Polícia Federal e do Ministério Público.

Este é o caso de fatos ocorridos durante o desgastante episódio envolvendo o então Presidente Renan Calheiros, no segundo semestre de 2007.

O primeiro deles foi registrado pela Veja na edição de número 2.029, de 10 de outubro de 2007.

A revista trouxe extensa reportagem detalhando uma operação de espionagem contra os Senadores Marconi Perillo e Demóstenes Torres.

Esse “trabalho” teria sido realizado pelo assessor da Presidência, Francisco Escórcio.

Na edição de número 2.032, a Veja trouxe outra reportagem registrando uma nova ofensiva contra senadores que eram favoráveis ao afastamento do Senador Renan da Presidência desta Casa.

Documento apócrifo distribuído nos gabinetes do Senado denegria a imagem do saudoso colega Jefferson Péres.

Infelizmente, a prática continuou.

Em 5 de dezembro de 2007, na edição de número 2.037, a revista Veja publica reportagem com detalhes sobre a contratação de detetives particulares para bisbilhotar a vida do nobre Senador Marconi Perillo.

O mais grave: a arapongagem foi contratada pelo próprio Senado Federal.

O que todos esses casos têm em comum?

Ninguém foi punido, não houve uma solução, e para todos os envolvidos, o crime compensou.

Senhor Presidente, peço à Mesa que anexe a este meu pronunciamento as cópias dessas reportagens publicadas por Veja, edições de número 2.029, de 10 de outubro de 2007, 2.032, de 31 de outubro de 2007 e a de número 2.037, de 5 de dezembro de 2007.

Solicito também à Presidência informações sobre todos esses episódios, pois o Senado Federal só terá legitimidade para questionar ações que ocorrem fora desta Casa quando apresentar à opinião pública – com absoluta transparência – um desfecho para esses casos insolúveis que acabei de relatar.

Como afirmei em meu discurso, Senhor Presidente, nada temo, estou pronto a debater qualquer fato relacionado à minha vida pública.

Só lamento que alguns de meus pares não tenham a coragem e a dignidade de fazer o mesmo.

Era o que tinha a dizer, Senhor Presidente.

Muito obrigado.