Por Luciano Siqueira Não é novidade.
Gente das mais diversas estirpes, inclusive com passivo registrado na matéria, sazonalmente esbraveja contra a corrupção sem entretanto apontar o remédio seguro para erradicar a praga – particularmente uma de suas modalidades mais salientes, a relação promíscua entre governantes e parlamentares e grandes grupos econômicos.
Hipocrisia pura.
Primeiro, porque essa gente apaga da memória atos inconfessáveis de sua própria lavra ou coniventes posturas diante de verdadeiros escândalos praticados por aliados. É o caso de oposicionistas atuais, que quando governistas perfilados nas hostes de FHC nada disseram quando o próprio presidente chegou a ser pilhado em conversa telefônica mais do que suspeita a propósito do processo de privatização de empresas estatais de telecomunicação, conforme circunstanciada denúncia da revista Carta Capital à época.
Esses emperdenidos senhores, apostando na chamada memória curta da opinião pública, hoje posam de arautos da moralidade pública.
Apenas por alguns dias e manchetes de jornais, pois logo em seguida se aquietam tamanha a inconseqüência do que dizem.
Segundo - e mais importante - porque via de regra tergiversam sobre medidas eficazes de efetivo combate à corrupção, especialmente a reforma política e eleitoral.
Seus partidos, dentre os de maior representação na Câmara e no Senado, ocupam a linha de frente da resistência a qualquer proposta de reforma de sentido democrático e moralizante.
Até defendem alterações na legislação, “para inglês ver”, como se dizia antigamente; ou, quando de vera, com o intuito de restringir a democracia (como a cláusula de barreira e a proibição de alianças partidárias para os pleitos proporcionais).
Na hora do vamos ver fogem de duas proposições a um só tempo essenciais e indissociáveis: o financiamento público das campanhas eleitorais e o sistema de candidaturas em listas prefixadas pelos partidos.
De uma só tacada dois golpes profundos na influência nefasta de interesses econômicos em geral escusos e no personalismo excarcerbado que conspira contra o fortalecimento dos partidos.
Se adotadas esses dois expedientes, as campanhas se tornariam menos desiguais; e o eleitor seria chamado a votar em partidos (e não em indivíduos), que por seu turno teriam que se apresentar com suas propostas programáticas.
Fora disso, discurso anticorrupção não passa de demagogia.
E seus paladinos de ocasião tão somente contribuem para a sobrevivência do velho e desgastado reino da hipocrisia.