Por Edilson Silva A incontinência verbal do presidente Lula continua a expelir pérolas.
A mais nova é sobre seu legado.
Segundo ele próprio, noticiado na imprensa nacional na semana passada, sua passagem pela presidência da República deixará um legado ao povo brasileiro, o legado de uma nova cultura política.
Infeliz coincidência, na mesma semana em que o presidente deu esta declaração, o ex-presidente e atual senador Collor de Mello (PTB-AL) assumia a Comissão de Infraestrutura do Senado na condição de aliado da base governista naquela casa, derrotando a também aliada Ideli Salvati (PT-SC), numa articulação que envolveu o ex-presidente Sarney (PMDB-AP), atual presidente do Senado Federal, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) e o articulador político do governo, ministro José Múcio (PTB/PE).
O PMDB controla hoje a Câmara Federal, sob a presidência de Michel Temer (PMDB-SP), o Senado Federal, com Sarney, e agora passou a controlar indiretamente também a comissão permanente do Senado que tem, em tese, a missão de acompanhar com lupas as obras do PAC, a Comissão de Infraestrutura, presidida por Collor.
As biografias que vêm se sobressaindo ou mesmo ressuscitando sob o governo Lula não se parecem em nada com nova cultura política.
Talvez o senador Aloísio Mercadante (PT-SP), ao criticar a aliança do PMDB que levou Collor a derrotar a senadora Ideli Salvati na disputa da referida comissão, tenha achado o termo correto para qualificar a cultura política predominante no governo Lula: aliança espúria.
Mas os Mercadantes e Idelis do PT estão provando nos próprios olhos a pimenta que cultivaram com tanto zelo.
Quem não se lembra da senadora Ideli discursando contra a cassação de Renan num passado bem recente?
Quem não se lembra de Mercadante e outros líderes petistas soltando fogos com o resultado das eleições 2008, quando o PMDB abocanhou boa parte das capitais do país, com os petistas anunciando a grande vitória da base aliada?
E agora, o PT se junta com o PSDB para tentar eleger Tião Viana (PT-AC) presidente do senado, e perde para o PMDB.
Faz aliança novamente com o PSDB para colocar Ideli Salvati na presidência da mais importante comissão para os interesses eleitoreiros do PT em 2010, e perde de novo para o PMDB.
Nesta guerra fisiológica, em que as trincheiras políticas mudam de lugar ao sabor de interesses particulares e nada republicanos, a senadora Marina Silva (PT-AC), anda dizendo por aí que o PT precisa encontrar-se com o PSDB em torno de um projeto comum.
Coloquemos neste mesmo saco as defecções políticas por questões éticas dos ex-petistas de primeiro escalão, como José Dirceu, Gushiken, Palocci, João Paulo Cunha, e temos uma resultante bem desenhada que representa de fato o legado da era Lula no poder: descrença, ceticismo, desesperança, descrédito na política, desmoralização de mais de uma geração de brasileiros que se dispuseram a empunhar as bandeiras de um novo fazer político.
Os estragos causados pela era Lula no longo e difícil processo de construção de uma nova consciência social, mais elevada, são ainda incalculáveis.
Este é o seu maior legado, o retrocesso na consciência social do povo brasileiro.
Presidente do PSOL/PE.
Ele escreve todas as segundas para o Blog de Jamildo com exclusividade.