Os repórteres Renato Lima e Giovanni Sandes, de Economia, colocam em pratos limpos, a partir deste domingo, a falácia do PAC.

Já estava na hora de alguém desmontar essa farsa, pelo menos aqui no Estado.

Um belo exemplo de bom jornalismo, que vai além das declarações oficiais.

Vejam abaixo apenas um pequeno aperitivo.

Aceleração do PAC fica restrita aos palanques O tão propalado Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), em Pernambuco, tem previstos R$ 31,4 bilhões, mas, em seu segundo ano, ainda tem a impressionante marca de 99,94% obras incompletas.

O dado consta em levantamento do próprio governo estadual.

Embora renda muito discurso político, o PAC compila poucas inaugurações de verdade, mesmo tendo em sua lista praticamente de tudo, de redutor eletrônico de velocidade, as lombadas eletrônicas, até abastecimento de água nas escolas.

O PAC foi apresentado no início do segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva como uma forma de gestão diferenciada de projetos públicos.

Combinado com mudanças legais, o programa aceleraria o crescimento sustentável do País.

Na época, o Brasil se beneficiava do boom do crescimento mundial, mas ostentava histórico, nesse aspecto, de resultados abaixo de outros países em desenvolvimento.

Projetos públicos já existentes ou ainda em concepção foram embalados e somados com projetos privados: surgia um arrojado programa de investimentos, que trazia em seu bojo importantes medidas institucionais.

Desde o início, o PAC pernambucano apresentou números elevados, por incluir relevantes projetos privados já em execução ou anteriormente previstos, como o Estaleiro Atlântico Sul, em Suape.

Pernambuco, no entanto, também foi contemplado com uma boa fatia de obras públicas, especialmente na área hídrica, como o sistema adutor de Pirapama, de R$ 430 milhões.

Os gestores do Estado comemoraram.

Mas, com apenas 0,06% do PAC concluído em Pernambuco, a aceleração ficou só no nome do programa.

Projetos com cifras enormes e especialmente significativos para o Nordeste e Pernambuco acumulam atrasos: a transposição do Rio São Francisco, orçada em R$ 4,69 bilhões (sem contar com a revitalização do rio, estimada em R$ 1 bilhão), e a ferrovia Transnordestina, de R$ 5,4 bilhões.

Mesmo nacionalmente, só 8% das obras do PAC foram concluídas e “em ritmo adequado de execução” estão outros 88%.

Até o que aparece “em andamento”, no papel, nem sempre condiz com a realidade.

Uma das exigências do governo federal para liberar recursos para a Transnordestina Logística (atual nome da concessionária da Malha Nordeste) viabilizar a famosa ferrovia foi a recuperação da Linha Tronco Sul, atingida em vários pontos por uma enchente, em 2000.

A Transnordestina propriamente dita prevê 1.728 quilômetros de trilhos, de Eliseu Martins (PI) aos portos de Pecém (CE) e Suape (PE).

Na obra serão aportados, em recursos públicos, R$ 4,6 bilhões.

Em 4 de maio de 2006, a concessionária requereu ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) as licenças para as obras na Linha Tronco Sul, avaliadas em R$ 100 milhões.

São 550 km de Suape, no Cabo de Santo Agostinho, a Propriá, em Sergipe, que integravam o Nordeste ao sul do País.

No balanço de dois anos do PAC, comandado pela ministra-chefe da Casa Civil e presidenciável Dilma Rousseff, a linha consta como 67% recuperada.

Mas, além da grande quantidade de mato nos trilhos, pontilhões continuam caídos e a “recuperação” se resume a dormentes novos ao lado dos antigos, podres, em quantidade e padrão irregulares.

Em seis localidades visitadas pelo JC, muita madeira recém-colocada já foi trocada e, ainda assim, apresenta várias rachaduras.

Em Palmares, Mata Sul, o supervisor administrativo aposentado da antiga Rede Ferroviária Federal (RFFSA), Pedro Carneiro, 68 anos, 31 deles na RFFSA, diz que a madeira foi colocada há menos de dois meses.

Ele vive no limite da área dos trilhos, perto da antiga estação municipal. “Colocaram uns dormentes, mas de Catende para lá (sentido Alagoas) não passa nada.

O pontilhão que caiu em 2000 continua do mesmo jeito”, conta.

A reportagem foi lá e confirmou o que disse Pedro.

A 210 km da capital, no limite com Alagoas, Agreste Meridional, está um isolado distrito de Canhotinho chamado Paquevira, onde fica a última estação da Tronco Sul em Pernambuco.

Lá, tranquila, a agricultora Isabel Rodrigues da Silva, 62 anos, e sua neta Carla Paulina da Silva, 10 anos, costumam amarrar nos trilhos pequenas ovelhas, que engordam comendo o mato que cresce em meio aos trilhos. “Passa uma ‘trolha’ carregando trabalhador e madeira uma vez na semana.

Só não sei quando o serviço acaba.

Colocaram dormente novo pior que a madeira velha.

Aqui, trocaram há oito meses, mas está tudo rachado, meio podre”, afirma Isabel.

Longe da casa da agricultora, na outra extremidade do Estado, a esperança para a expansão do agronegócio em Petrolina, no Sertão do São Francisco, já teve vários diferentes prazos de lançamento. É o Projeto Pontal, aguardada primeira parceria público-privada federal e que já animou muitos investidores, pelo menos antes da crise do Vale do São Francisco, fortemente atingido pela queda nas exportações.

Desde 2006 espera-se a licitação, de onde sairá uma empresa ou grupo para completar e manter a infraestrutura do perímetro irrigado de 7.473 hectares, em que a União já gastou R$ 235 milhões desde 1996 e nunca ficou pronto.

O projeto prevê que o vencedor destine no mínimo 25% da área a produtores de pequeno porte, que serão integrados ao negócio.

O Pontal espera a licença ambiental da Agência Estadual de Recursos Hídricos (CPRH), que informou ainda não ter perspectiva para a liberação.

Mas, no balanço do PAC, é mais um que consta com o carimbo verde, de “aprovado”.