Não sou religioso –e, ainda por cima, sou judeu.
Talvez não seja o indivíduo mais recomendado para comentar a decisão da Igreja Católica de excomungar a mãe da menina de nove anos em Pernambuco e os médicos que fizeram o aborto –a menina, de 9 anos, estava grávida do padrasto.
A excomunhão me parece um segundo estupro.
Apesar de discordar, posso entender que a Igreja condene o aborto.
Até, fazendo força, entendo que condenem um padre, parlamentar do PT, que defendeu o uso da camisinha.
São posições arcaicas e, na minha visão, prejudiciais à saúde pública, mas se inserem em princípios.
O que não consigo entender é por que estão humilhando e fazendo sofrer ainda mais a mãe da menina grávida, já condenada a uma drama familiar –um sofrimento que se estende para a garota, que fica como filha de uma excomungada.
Quem conhece a religiosidade do interior do Nordeste sabe o peso disso.
Faltou aí não só bom senso, mas humanidade.
Duvido que essa seja a opinião da maioria dos católicos.
Gilberto Dimenstein, 52, é membro do Conselho Editorial da Folha e criador da ONG Cidade Escola Aprendiz.
Coordena o site de jornalismo comunitário da Folha.
Escreve para a Folha Online às segundas-feiras.