RENATA BAPTISTA da Agência Folha, em Recife A Polícia Civil indiciou ontem dois sem-terra pela morte de quatro seguranças de uma fazenda em São Joaquim do Monte (134 km de Recife), no último dia 21, durante um confronto com um grupo ligado ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) em uma propriedade vizinha.

Paulo Alves Cursino, 62, e Aluciano Ferreira dos Santos, 31, foram indiciados sob a acusação de homicídio.

O delegado Luciano Soares, que comanda as investigações, disse que Cursino distribuiu as armas a outros acampados.

Ele e Santos, em depoimento, negaram participação no tiroteio, alegando que tentavam se esconder no momento da investida dos seguranças.

Em nota, o MST afirmou que os sem-terra agiram em legítima defesa e que os seguranças estavam fazendo ameaças para reaver fotos e imagens feitas pelos sem-terra em que esses seguranças aparecem armados.

De acordo com o inquérito, com base em depoimento de testemunhas, os cinco seguranças da fazenda foram vistos armados no mesmo dia do crime.

No momento do confronto, no entanto, apenas dois deles –João Arnaldo da Silva e Rafael Erasmo da Silva– estavam com armas.

José Wedson da Silva, Wagner Luiz da Silva e Donizeti Oliveira Souza (único segurança sobrevivente) estavam desarmados.

Os laudos dos exames residugráficos para constatar a presença de resquícios de pólvora nas mãos dos sem-terra não haviam sido entregues à Polícia Civil até ontem à noite.

Para Soares, apesar de o inquérito ter sido finalizado, as investigações terão continuidade.

O delegado afirmou que pelo menos outras duas pessoas que ainda não foram encontradas tiveram participação nos crimes, segundo relato de testemunhas.

Um deles, o sem-terra identificado como Romero Severino da Silva, conseguiu fugir mesmo após ter ficado ferido na troca de tiros e continuava foragido até ontem.

Anteontem, através de uma denúncia anônima, a polícia encontrou armamento supostamente utilizado pelos seguranças no confronto.

Segundo o delegado, o material –duas espingardas calibre 12 e um revólver calibre 38, além de munição– está sendo submetido a exame de balística no Instituto de Criminalística, em Recife.

Cerca de 30 famílias ligadas ao MST continuam acampadas na fazenda Jabuticaba –onde os seguranças trabalhavam e localizada a 11 quilômetros da fazenda Consulta, onde aconteceram as mortes.

O movimento pede a desapropriação das duas propriedades.