Por Edilson Silva Está em andamento mais uma campanha contra o MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.
Sem o devido direito ao contraditório, o MST está sendo criminalizado em editoriais e artigos na grande mídia e nas falas de autoridades públicas e políticos com visão medieval.
As recentes ocupações de terras realizadas em São Paulo, no Pontal do Paranapanema, e o lamentável incidente que resultou na morte de quatro jagunços no agreste de Pernambuco, serviram de senha para se abrir essa nova ofensiva contra o movimento.
Na proa da campanha, ninguém menos que o presidente do STF, ministro Gilmar Mendes, que acusa o MST de ser um movimento criminoso e na esteira acusa também o governo federal de cumplicidade por suposto financiamento das atividades do MST.
Caberia perguntar ao ministro Gilmar Mendes se os supostos crimes cometidos pelo MST foram devidamente apurados e passaram pelo devido processo legal, transitado em julgado.
Em melhor português: não teria o MST os mesmos direitos de Daniel Dantas, um bandido, nas palavras do delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz, que gozou do privilégio de ver o presidente do STF atuar de forma muito próxima a um advogadozinho de porta de cadeia, fazendo plantão para soltar-lhe do xadrez com seguidos habeas corpus?
Não estariam os supostos crimes do MST guardados na mesma gaveta em que se encontram as supostas provas dos grampos feitos no telefone do presidente do STF pela Polícia Federal, gravações que serviram para criar um rebu institucional e que até hoje ninguém viu ou ouviu?
Numa outra frente anti-MST, o Ministério Público do Rio Grande do Sul, em conluio com a governadora Yeda Crusius (PSDB), vem buscando fechar as escolas itinerantes vinculadas ao MST, que funcionam nos acampamentos e assentamentos.
Motivo: (pasmem) as escolas ensinam com a metodologia do mestre Paulo Freire.
Não questionam os resultados objetivos obtidos no aprendizado das crianças, a qualidade dos pedagogos, os espaços onde as aulas são ministradas.
Fazem um questionamento essencialmente ideológico, afirmando que as crianças estariam sendo doutrinadas à margem dos “valores” predominantes desta sociedade que produz sem terras e sem direitos quase na mesma medida em que nascem pessoas.
Episódios como estes que vitimaram quatro jagunços em Pernambuco são lamentáveis e devem sim ser devidamente apurados, mas encarados como fatos isolados na história de 25 anos do MST, que atestam que este é um movimento social de luta, de enfrentamento direto com o latifúndio, mas que tem se pautado de forma inequívoca pela defesa dos direitos humanos.
Infelizmente, o Brasil vive uma situação pré-capitalista no campo, com uma irracional falta de limites ao latifúndio e com a grilagem de terras correndo solta.
O MST, assim como os demais movimentos sociais que lutam pela democratização da terra em nosso país, representa um grito de basta a esta situação que se arrasta há séculos, e cujas ações no restrito campo da institucionalidade já demonstraram ser insuficientes para mudá-la.
Não há outra forma de democratizar a terra em nosso país que não seja combinando a disputa nos espaços institucionais com o efetivo enfrentamento aos latifundiários e grileiros, lá onde a ilegalidade e a injustiça se materializam, e de forma alguma estes enfrentamentos, que produzem inevitáveis conflitos, podem ser entendidos como ilegalidade, mas sim como parte imprescindível, legítima e inseparável da luta por uma verdadeira reforma agrária em nosso país.
Presidente do PSOL/PE