O presidente Lula quer sair do governo com um certificado ISO-15.000 na área social.

Para cumprir a meta, anunciada na semana passada durante a reunião de balanço de ações sociais do governo com 14 ministros, Lula terá primeiro que se explicar.

Ele é acusado de usar seu principal programa social, o Bolsa Família, como “manancial de votos”.

As acusações formam feitas pelo ex-coordenador de mobilização social do programa Fome Zero – a principal plataforma eleitoral de Lula no primeiro mandato –, e amigo pessoal do presidente, Frei Betto, que avalia que nesses sete anos de governo, o PT mudou os rumos de sua política e deixou de lado um projeto inicial de governo, para se dedicar a um “projeto de poder”. “É um governo que lamentavelmente na sua trajetória mudou a rota.

Deixou de lado um projeto de Brasil, por um projeto de poder, a ponto de fazer hoje uma coligação de 14 a 16 partidos em função de um horizonte de poder e não um horizonte de Brasil”, defendeu Frei Betto em entrevista exclusiva ao Congresso em Foco, durante do Fórum Social Mundial realizado no final de janeiro em Belém (PA).

O frei dominicano – que deixou o governo Lula em 2004, por não concordar com os rumos da política petista na época – afirma que o PT, ao manter o benefício do Bolsa Família por tempo indeterminado, garante a fidelidade dos mais pobres que retribuem o benefício por meio do voto. “Não sou contra o Bolsa Família, mas ele é incompleto, imperfeito, insuficiente e assistencialista.

Perdeu-se o caráter emancipatório para o caráter compensatório, em função de um projeto político, que não é a emancipação brasileira, mas a permanência no poder, na medida em que esses beneficiários do Bolsa Família trazem em contrapartida votos”, acusou.

O Bolsa Família é um programa de transferência de renda, criado para apoiar famílias pobres e garantir a elas, em especial, o direito à alimentação.

No início do governo Lula, o programa fazia parte do Fome Zero – programa criado para acabar com a fome no Brasil, do qual estavam atrelados cerca de 60 programas sociais.

Em 2004, o Fome Zero foi extinto enquanto programa e o Bolsa Família passou a ser prioridade do governo.

Segundo o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, 11 milhões de famílias são beneficiadas pelo Bolsa Família.

Dessas, mais de dois milhões passam fome.

A maioria dos beneficiados é dos estados da Bahia e de Minas Gerais.

O preço da bolsa varia de R$ 20 a R$ 182 e depende do número de crianças por família e da renda mensal familiar.

Receio Na entrevista exclusiva, Frei Betto faz ainda avaliações sobre o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e defende ainda que, apesar das críticas ao governo Lula, é preciso manter a esquerda no poder.

Ele afirma que a candidata escolhida pelo presidente para concorrer nas eleições de 2010, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, é “muito competente”, mas que não foi uma escolha do partido e sim do Lula.

Ao site, o teólogo elogiou a política do governo para amenizar os efeitos da crise econômica mundial, mas se disse receoso sobre as conseqüências que dela no país. “Tenho a impressão que nós vamos enfrentar tardiamente as conseqüências dessa crise, principalmente no aumento do desemprego.

Infelizmente, com todas as conquistas e pontos positivos do governo Lula, não se investiu no mercado interno”, considerou.

Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto, nasceu no ano de 1944, em Belo Horizonte.

Ligado à esquerda, foi preso político durante a ditadura militar, acusado de apoiar guerrilheiros como Carlos Marighella.

Betto estudou jornalismo, antropologia, filosofia e teologia, entrando para o convento dos dominicanos em 1965.

Em toda a sua trajetória, a política e a religião sempre estiveram ligadas, sendo ele um dos defensores ferrenhos da teologia da libertação.

Leia entrevista completa aqui.